- Caralho, empresto nada! Comprei agora, vou brincar até enjoar!
- Mas tu num tem também a Bâle-Fáiar-Uóter-Pruf-Armor-Ofe-Godes?
- É, mas usando as duas eu fico invencível!
Rogerinho era um menino egoísta. Havia três semanas, ele ganhou os dois brinquedos (réplicas de armas e coletes do exército americano) e não parava de usá-los. Os brinquedos não queriam ser de mais ninguém, só dele. Ora, pelo menos ele achava isso. E se eram deles, ele achava certo.
Só que seu Malaquias, pai de Rogério, era muito rigoroso. Uma vez, quando preparavam-se para viajar, ele deu um ultimato ao guri:
- Só leva um dos dois.
- Oxe, painho, mas eles são de um conjunto!
- Mas são duas tralhas da porra, e eu não vou pagar excesso de bagagem. Ou um, ou outro.
Rogerinho então teve uma idéia. Uma semana antes da viagem (ou seriam dois dias?), ele decidiu passar um dia com um, outro dia com o outro. Passou a segunda-feira INTEIRA vestindo a Buller-Fire-Water-Proof-Armor-Of-Gods. Escreveu o que sentiu, o que pensou, as brincadeiras com os amigos, e foi dormir.
Na terça-feira, Rogerinho saiu desprotegido de sua super-armadura, porém, mais ofensivo, portava sua Storm-Machine-Gun-Dream-Destroyer. Quando miravam nele, ele se esquivava, tentava não levar as balas que o colete impedia de atingí-lo. Mas "matou" todos os pivetes, pois dessa vez, ele tinha o poder. O poder da Dream-Destroyer, grande arma do filme lá. Aquele que ele assistiu. Na hora de dormir, escreveu novamente. Mas dessa vez, foi muita página, pô. O Caderno do pivete vai ter de ser trocado.
Ficou claro pra Rogerinho, pro pai, pros colegas... Pra todos. Rogerinho preferia a arma. A arma causava maior inveja nos guris, não só de sua classe, e sim, de todo o colégio. Até os mais velhos, os da sexta série. Dizia na caixa que a arma destruía sonhos.
O guri ficou chateado por não poder levar os dois, e causar mais inveja ainda. Até causaria reações divergentes, uns diriam "Porra, ele tem dois. Como pode? Eu só tenho um!" e outros diriam "Que filhinho de papai. Tem os dois.". Mas falariam dele. Fale mal, mas de mim.
Rogerinho chegou em seu quarto, a mala quase pronta. Só tinha o espaço pra mais um brinquedo. Ele olhou pros dois, e virando pra Metralhadora (réplica), disse:
A arma sorriu e pensou "Ele gosta de mim".