sexta-feira, outubro 28, 2022

Insegura

Ela tem tanto a viver

Tanto a perder

Tanto poder.

Aventuras não significam tanto assim

E é importante entender que não

Uma vez, um mês, talvez.

Mais do que isso

Se torna um atraso

Algo que te segura.

Te impede de ir, sentir, viver

Uma nova aventura.

Por isso eu peço

Esforços não meço

"Não mude sua cultura"

Porque o tempo não cura

O atraso

de uma antiga aventura.

quarta-feira, maio 11, 2022

Duérmete

 E de repente, barulho de vidro estilhaçando. Maria percebe que não vai funcionar. Que não é mais aquela menina sonhadora que insistia com seus sonhos, por mais inatingíveis.

Maria agora é uma mulher, adulta e responsável. Não pode mais se dar ao luxo de manter expectativas irreais e irracionais. Desleais.

Precisa entender e aceitar que passou, que foi uma aventura e que ela chegou a um momento de sua vida em que as aventuras não podem durar. Ela não tem mais saúde para isso.

E nem estabilidade. Nem segurança. Nem atitude. Nem coragem. Nem gana. Nem força de vontade.

Maria entende então, em uma epifania clara - um verdadeiro momento eureca: A covardia é meramente a habilidade de aceitar sua condição estabelecida por tudo e todos menos você mesma. Ou especialmente por você; no fundo, não importa.

E essa arte ela domina como poucos.

Dorme, Maria, pois quando estás desperta é quando te dói.

terça-feira, novembro 30, 2021

Aprovação

Eu tenho duas garrafas de whisky. Uma foi um presente. Caro. Um presente de alguém que eu enxergo como uma figura paterna. Alguém de quem estou incessante e frequentemente buscando aprovação. Alguém que reconheço como, em diversos aspectos, um exemplo de como eu deveria ser. Alguém que me tomou como aprendiz, me tomou como fiel escudeiro. Meu líder.

Ao menos é assim que vejo.

Talvez não seja, talvez apenas eu enxergue desta forma. Talvez apenas eu veja a figura quase paterna - embora poucos anos mais velho que eu, quem sabe um irmão mais velho - e ninguém mais.

O que importa é que eu tenho esta garrafa de whisky. Ela é cara, é especial. Ela, pra mim, representa a valorização de quem sou. O reconhecimento de que sou especial.

Nunca tive este reconhecimento do meu pai. Ou de outras pessoas de quem busquei aprovação.

Vem ao caso? Dificilmente. Mentira. Certamente.

O que importa é que

é

um

presente.

E estou relutante. Estou drogado, em plena terça-feira. Relutantemente tenho poucas opções de continuar nesta experiência de embriaguez. Estou relutante em...

Pois tenho duas garrafas de whisky. A primeira, barata, é minha. Minha escolha. Minhas dores. Ela representa os momentos em que fiz... más escolhas para minha vida.

Porém eu acabei de finalizá-la. Terminei. Acabei de dar o último gole enquanto regurgitava estas palavras.

A garrafa que sobra é o presente. A cara. A especial. O presente de alguém que escolhi para representar meu reconhecimento. Não é a garrafa que é o reconhecimento. É a pessoa.

Um irmão mais velho. Menos que um pai. Mais do que eu.

Alguém que me ensina diariamente como me aprimorar. Mas que me escraviza dia após dia após dia com este mesmo pretexto.

Eu tenho duas garrafas de whisky. Uma especial, um presente. Um reconhecimento por serviços prestados. E em meu coração, um cuidado de um irmão mais velho. Um role-model. A outra? Barata, fraca e triste.

Eu acabei a garrafa barata.

- Quando eu tinha 20 anos, me graduei na universidade. Meu presente não veio do meu pai. Meu irmão mais velho me deu - enquanto o meu pai ainda era vivo uma garrafa de whisky. Johnnie Walker Double Black Label.

Eu descobri pouco tempo depois que foi a mesma garrafa que meu pai deu a ele em sua formatura.

Sim. Meu pai deu a meu irmão mais velho uma garrafa cara de whisky. Meu irmão nunca a consumiu. Quatro anos depois este mesmo irmão a deu a mim.

Eu não sabia. Não sabia a procedência. Não imaginava que era um presente de segunda mão (porém que vinda do meu irmão, e não do meu pai, tenha infinitamente mais significado, obrigado do fundo de meu âmago). Daquele pai que jamais me valorizou. Jamais me reconheceu como alguém de sua estirpe. Embora eu seja, hoje

plena

definição

de

sua

maldade

e

malandragem.

Meu irmão mais velho é praticamente um monge. A pessoa mais altruísta e generosa que já conheci.

E eu, um fraco, um trapo?

Sou a exata cópia do homem que jamais me valorizou. Mas que tinha um sorriso maléfico como o meu.




-------



Hoje vejo que talvez meu pai valorizasse tanto e tanto e tanto meu irmão quatro anos mais velho pelo simples fato dele não ser nem um pouco similar. De serem tão distantes. Quase que como um reconhecimento de que ele escapou de ser ruim. Malandro. Carismático porém daninho. Atraente porém nóxio. Admirado

porém

reconhecidamente

perverso.

Meu irmão representa o oposto da perversidade do meu pai.

E talvez por isso meu pai nunca me favoreceu ou valorizou.

E por isso eu seja tão parecido com ele. O que veio primeiro? Seu não-reconhecimento por eu ser sua cópia? Ou meu plágio por causa de seu desprezo?

E talvez por isso eu busque, hoje, o reconhecimento de alguém que é visivelmente melhor. Mais generoso. Mais altruísta. Mais humano.

Mas

que ainda assim

me presenteia

com a garrafa

de um whisky caro.

Garrafa esta

cuja tampa

neste momento

desenrosco.

terça-feira, novembro 23, 2021

Aries

 Essa história não é minha.

Mas vou contá-la mesmo assim.

Imagine uma cidade quasi-fantasma. Sim, ela estava à beira do éter. E o nosso destemido protagonista vivia na taverna. 

Nossa, mas não seria possível ser ainda mais clichê?

- não me desafie. Claro que seria. Mas estou sendo parcimonioso aqui.

Então nosso destemido protagonista acorda. De um pesadelo. Encharcado, suando, só de calças e botas, sem camisa, amaldiçoando os céus pelo pelo pesadelo. A mão? Segurando a arma. O som? De rabecas em mi denotando o início da manhã.

Após oito segundos percebe estar longe de casa. 

E aqui abrimos parênteses: nenhuma história de dor, nostalgia e sentimento de verdade envolve a proximidade de casa. Do afeto. Da segurança.

Consequentemente nosso protagonista - nosso herói - percebe estar longe. E isso não é uma surpresa. 

Percebe também que descendo ao salon todos o encaram com um misto de reverência e desprezo.

Natural, não é? Acostumado. 

Em verdade essa é a reação que sempre busquei. Ame-me. Despreze-me. Mas jamais ignore-me.

Nosso herói atravessa a rua em frente ao salon. Encara a porta da estalagem.

Uma placa balança.

É difícil de entendê-la. 

O herói puxa a colt. Em menos de 1 segundo dispara. A placa para de balançar por poucos milésimos de segundo e exibe por ainda menos tempo o seu nome:

Áries.

A luz do sol. A capa da chuva. O clarão do relâmpago. A tênue iluminação daquilo que chamamos de lua. 

Nada parece iluminar tanto quanto q resposta de nosso herói:

Seu.

sábado, outubro 23, 2021

A água do mar do mineiro

Dress in black now, show everyone your grief
Well, I'm gone now, you can all feel relief

O relógio batia oito vezes. Oito da noite, após um dia quente, movimentado, cheio. A mina, àquelas horas, parecia em paz. Quase todos haviam subido à superfície, trocando a fuligem de seus pulmões pelo

mais

puro

oxigênio.

Mas não ele. Não ele. Ele continuou. Picando a fria rocha em busca do - ainda mais - frio minério. Persistente, ele diria. Teimoso, diriam os outros.

A verdade é que aquela mina já estava esgotada. Nasceu esgotada. Pequenos minérios com menos valor do que um níquel foram encontrados e, para muitos - como para ele - era uma promessa de mais. De riquezas. Tesouros. Quem sabe até...

Na oitava badalada, decidiu subir. 

Mas diferente dos outros, a fuligem não foi substituída pelo ar puro da noite, não, não, jamais. Sentiu seus pulmões afogando, inebriando-se na mais salgada água do mar. Água salgada era tudo que respirava.

O elevador parou, removeu o capacete. Apagou a lanterna. Encaixou a picareta no último espaço vazio do descanso. Não, não eram quase todos. Eram todos. Ele era o último.

Foi o último a perceber que não haviam mais riquezas para se extrair, não existiam tesouros. Nunca houveram. Persistente, diria ele.

A mina estava abandonada. Nascera abandonada.

Caminhou pela estrada de barro, durante milhas e milhas. Ouviu doze badaladas e ainda estava

longe

de

casa.

O que fez nas últimas quatro horas? Caminhou pela estrada de barro inebriando-se em nada mais do que a mais salgada água do mar.

A varanda era pouco convidativa. Mas para ele era um lar.

Sentou-se no banco de balanço, uma lâmpada incandescente zumbindo sobre sua cabeça. A lua, ao longe, estava cheia.

Propício.

Ao lado do banco, uma garrafa de moonshine pela metade, destampada. Destemperada. Pegou-a, os olhos marejando. O gosto do uísque caseiro era doce... especialmente em comparação com a mais salgada água do mar que lhe enchia os olhos, bochecha, lábios e língua. 

Lembrou-se que não conhecia o mar. Mas conhecia, ah, como conhecia, a água salgada que agora enchia-lhe os pulmões e a língua. E os olhos.

No quinto gole esqueceu do sabor da água do mar, como sempre acontecia depois do quinto ou sexto gole.

Piscando os olhos, viu o dia claro. Viu o sol a brilhar com a força de um milhão de lanternas de capacete de mineiro. Viu as poucas e belas nuvens formarem pareidolias visíveis e reconhecíveis no quadro azul que era o céu.

Baixou os olhos e viu sua encantadora e vigorosa esposa correndo pelo gramado do pátio, vestido branco com diversas camadas. Os três cachorros arfavam e latiam, correndo com ela, em uma demonstração frenética de regozijo e alegria.

Ela levantava as anáguas para correr com eles, selvagem, confortável, aberta. O sol brilhava mais do que um milhão de lanternas de capacete de mineiro. Seu sorriso brilhava mais do que o sol. Repentinamente parando de correr, levanta os olhos em direção à varanda da casa, ainda sorrindo. Por incrível que pareça, conseguiu sorrir ainda mais e mais forte e mais brilhoso e mais luminoso e mais selvagem e mais entusiasmada. Transbordando encanto.

Mas não, não era para o mineiro. O sorriso se dirigia a poucos metros à direita, dirigia-se à porta da casa. Que estava aberta.

Em poucos segundos duas crianças saem correndo, gritando - aquele grito agudo de criança que, apesar de todas as probabilidades, não incomoda. Pelo contrário, estimula.

As crianças descem os poucos degraus da varanda ao pátio gramado. Uma delas tropeça mas, por ser criança, ainda não aprendeu a desistir no primeiro tropeço.

Ali, ele quis que aquela criança jamais crescesse, jamais aprendesse. Nunca desenvolvesse a habilidade de ser derrotada ao primeiro tropeço, como ele desenvolveu.

A primeira criança, a que não caiu, abraça-se a um dos cachorros. A segunda, ao levantar-se - joelho sangrando - segue em frente, correndo, uma demonstração de resiliência e determinação a

abraçar-se

com

sua

mãe.

A mãe a recebe com um sorriso ainda - como se ignorando as leis da física e da anatomia - maior e mais radiante. O abraço seria descrito pelos filósofos como o momento da criação do universo. Pena que os filósofos não observam esposas de mineiros e suas crianças.

Enquanto ergue a criança no ar, contra a luz do sol, e enquanto aqueles dois sorrisos sublimes e divinos se encontram e dão origem a incontáveis novas estrelas que veríamos na próxima noite, ela baixa mais uma vez os olhos e encontra os do cansado mineiro.

O encontro de olhares esquenta mais que o encontro de milhões de vulcões com bilhões de estrelas em combustão.

Após o que parecem horas de encontro entre olhares e sorrisos, o mineiro enfim pisca.

E a garrafa vazia escapa de sua mão, caindo em câmera lenta até bater no chão de madeira. A lua, cheia, ainda sobe nos céus e o mineiro, sozinho, volta a sentir-se inebriado pela mais salgada água do mar.

Que lhe enchia os olhos, bochecha, lábios e língua.

Fuligem nos pulmões
Calos nas mãos
Água do mar nos olhos
Só lhe falta o coração.

Desisto, pensa o mineiro
Nunca mais tentarei
Esta mina se esgotou
Ou fui eu que me esgotei?

O gosto do uísque
Confunde o sabor
Da água do mar
Lhe distrai da dor

As paredes de fogo
Não parecem aquecer
Mas sinto-me em casa
Paraíso para quê?

No pátio gramado
Simulo alegrias
Eu procuro fantasmas
Mas só encontro fobias.

Ao fim do meu sonho
Eu pretendo saber
Se sou eu o quebrado
Ou se um dia inteiro vou ser.

As paredes de fogo
Não parecem aquecer
Mas sinto-me em casa
Paraíso para quê?

Por poucos momentos
Tento me enganar
Tentando esquecer
Que jamais será.

As paredes de fogo
Não parecem aquecer
Mas sinto-me em casa
Paraíso para quê?

E então me recolho
com resignação
A noite acabou
Mas a próxima não.

As paredes de fogo
Não parecem aquecer
Mas sinto-me em casa
Paraíso para quê?

E então me recolho
com resignação
A noite acabou
Mas a próxima não.

sexta-feira, outubro 22, 2021

Ternura

Respondeu rápido. Assim que eu gosto. 

Assim começou minha quinta-feira. Logo após registrar, em folhas brancas, um outro início sobre a solidão. Início agora tão distante.

O resto do dia foi ladeira acima. Culminando em uma noite de honestidade e muito entusiasmo. Mas como começou esta semana?

O domingo à noite trouxe lembranças. E, com elas, a memória dos desejos. Que por sua vez, por alguma razão, trouxeram a coragem.

Mas foi na segunda pela manhã que foi tomada a decisão: dessa vez não vou me esconder por trás das máscaras de rotina. E foi a melhor decisão, que surgiu com uma reflexão: se eu começar a semana com máscaras, que verdades poderei esperar de seu fim?

A terça consolidou a atitude. Mais um dia inteiro interagindo despido de máscaras, envolto apenas em humanidades. Da mesma forma que no dia seguinte.

Mas a quarta à noite chegou com determinação. Eu quis a Ternura que você parece oferecer. E agora?

Chegamos à quinta-feira. E com ela um bom dia respondido de imediato, seguido de todos os degraus calma porém decididamente galgados.

A sexta e o sábado serão de ansiedade, e espero que os dias que virão sejam repletos com a Ternura do domingo.

quinta-feira, outubro 21, 2021

Acabou o pão.

 É estranho ser só.

Acordar, pela manhã, e dividir os pensamentos consigo mesmo.

Quase um diálogo de casal - ou de colegas de apartamento - com curiosidades, besteiras, "acabou o pão", e "deixa te contar o sonho que eu tive ontem".

Pensamentos dignos de serem partilhados. 

Compartilhados.

Mas, na solidão, jamais são vocalizados.

Nunca verbalizados.

Só idealizados.

Só.

quarta-feira, outubro 06, 2021

Over now

Dani sabe. Tudo tem um fim. Mas o que ela não consegue compreender é como ela consegue, de alguma forma, continuar respirando.

Não faz sentido, sabe? 

Até por que quando algo se desgasta, é melhor seguir sem. Descartar. Descartar o desgaste.

Quando está tudo terminado, ela pensa, deveria estar tudo terminado. Então como ela consegue continuar respirando?

Não é eficiente, sabe?

Até por que para ser eficiente, é mais fácil não ter desgaste. Desgastar. Em vez de começar e terminar sempre - como a Garota de Cabelos Laranjas - por que não começamos algo e simplesmente vamos até o fim?

Ah... entendi. Por que sempre vai ter um fim.

Ela só não entende como consegue, de alguma forma, continuar respirando.

No fim, não é tudo que tem um fim. Existem vários fins.

Até ser o fim definitivo. E não ter mais fim. 

Por que não poderemos mais ter um novo começo.

We pay our debts sometime.

domingo, junho 06, 2021

Diamante bruto

As pessoas me dizem para desistir e ir embora, para casa.

Mas elas não sabem o que é não ter um lar para ir.

É tão difícil quando a gente passa o tempo inteiro achando que só falta algo, aquela atitude especial que vai fazer tudo mudar. E aí a gente espera o momento ideal para tomar aquela atitude, sem saber que ter uma atitude está justamente em criar o momento ideal.

Diego não sabia disso. Aliás, sabia. Mas ainda assim esperava. Pelo momento, pelo ideal de momento que seria perfeito para tomar uma atitude. Mas Diego sequer planejou, sequer se antecipou. Não pensou nem no que diria, no que faria quando o momento aparecesse.

Talvez por saber, ainda que sem querer, que não apareceria o momento. O momento é a gente que faz se a gente quer mesmo, sabe?

De repente Diego não queria de verdade. A dor era mais atraente do que a resolução.

E agora o seu coração segue o caminho oposto de um diamante: ao ser lapidado nas dores e amores fica

Cada

Vez

Mais

Bruto.

Até que um dia não vai refletir o olhar de mais ninguém, de tão opaco e sem brilho.

Diego anseio por esse dia.

segunda-feira, maio 17, 2021

Por quê?

Eu amei a forma como você respondeu às minhas expectativas e investidas.

Eu amei a forma como você tomou a iniciativa de me questionar: "por quê só agora?".

Eu amei o jeito que você usou pra me direcionar: "me chama agora".

Eu amei quando você atravessou a cidade para me encontrar.

Eu amei a primeira noite.

Eu amei como você me fez me indagar "por quê não mais?"

Eu amei como você dançou enquanto eu cantava.

Eu amei interromper a música para te beijar.

Eu amei você interromper a dança para aceitar.

Eu amei todos os momentos em que você compartilhou comigo sobre seu dia.

Eu amei como você tornou naturais todas as conversas.

Eu amei como você buscou me aprimorar. Me adaptar, me adequar.

Eu amei a forma como você foi direta ao reclamar.

...

Eu amei como me senti em cada um destes momentos.

...

Mas acima de tudo, eu amei perceber

que eu preciso me amar

antes de amar você.

segunda-feira, abril 26, 2021

Mais rápidos que fugir

 Pelo visto não foi suficiente baixar a cabeça. Se enterrar na areia. Por mais que a gente tente, é comum se entregar. Se entregar.

A gente aprende a não demonstrar fragilidade. No deserto, aprendemos a não entregar nossa posição. Especialmente se

uma

coluna

de

poeira

sobe

ao sul.

E aí a gente fica sem saber se existe, se vai doer. Não, a gente aprende apenas a sobreviver. Não a viver através das colunas de poeira que vem do sul.

Mas elas sempre chegam. Trazendo dor. Trazendo necessidades. Urgências. Fisiologia, né?

E aí somos pegos com as calças curtas. Somos descobertos com a cabeça na areia, mas todo o resto à vista. Pois jamais aprendemos a nos esconder de verdade. Só nos iludimos sobre como nos esconder sob a verdade.

De certa feita, já neste deserto, houve um diálogo:

- Sou sozinha.

- Também sou.

- Me basto assim.

- E eu a mim.

- Mas descobri...

- Acho que também...

- Que talvez me soe bem me proteger...

- ...junto de alguém? Concordo.

Mais uma vez, dois iludidos. Dois se escondendo sob a dor um do outro. E somente quando um reconhecer sua dor poderá entender - e ajudar com - a do outro. Até lá, um servirá apenas para entregar sua posição.

Para aqueles que vem na coluna de poeira vinda do sul. Que só querem o mal.

Foi quando ela, triste, desesperada, descobriu que ao se entregar a algo que nem existia - nem era real - apenas entregou sua posição.

E a coluna de poeira chegou.

Do sul.

E nada de bom aconteceu desde então.

Não quero mais sentir

Eu não quero mais sentir n a d a .

É mais fácil continuar caindo, em direção ao abismo. Em direção ao n a d a .

O vazio de todos os amanhãs, e eu sigo me sentindo assombrado pelo seu fantasma. Conscientemente evitando m u d a n ç a s.

Deixando de lado, uma hora acontece:

o

luto

lugar

para

a

tristeza.

E eu lembrarei de você. Como algo que doeu, como algo que senti. Ao menos senti. Ou quis?

------------------------- ✂️ -------------------------

Não é, não devia, não devia ser assim. Só queria não ter errado de novo. Menos ainda com outra pessoa. Mas acho que errei desde quando te quis comigo sem eu - eu mesmo - estar. Foi injusto. É injusto. Eu busco nos outros o que falta em mim.

"O que é a solidão? A falta do outro ou o excesso de mim?""

Ai, Maria Flora, você deixou de lado o mais importante: o excesso do outro sob a falta de mim. E o excesso de mim sobreposto ao outro. E aí sempre dá no que deu: ruim.

Eu devia ter entendido, eu devia ter me preparado. Eu devia ter afastado todo mundo que acha que pode se aproximar de mim sem correr os riscos.

B I O H A Z A R D ☠️

Não te aproxima. Não chega perto. Nada de bom existe na proximidade de material radiativo.

é

que

sou.

Assim como aquela areia: Amarela. Distorcida. Doente. Visivelmente prejudicial.

Este sou eu. E é por isso que, em 2789, sigo vivo. Me agarrando na areia. Refestelando-me sob as dunas. E emergindo com o fino pó entremeado em meus cabelos.

Pois mais que aquela areia, sou eu o mais radiativo. 

Mas a coluna de poeira continua a subir ao sul. Minha hora de enfrentá-la.

Tudo me indica que sairei vitorioso, sejam quem forem.

Podem vir. Estou preparado. Endurecido. Carreau ao meu lado.


quarta-feira, março 31, 2021

Distorção Social Parte II

 Um mar de areia. Amarela, distorcida. Doente. Visivelmente prejudicial

À

Sua

E

À

Minha

Saúde.

No horizonte, para qualquer lado que se olhe, mais areia amarela distorcida doente. Exceto para o sul. De lá vê-se uma coluna de poeira subindo como que mil cavalos levando mil charretes levantassem mil toneladas de areia. Amarela. Distorcida. Doente.

Ela ajoelha-se. Coleta um punhado de areia com as mãos. Deixa escorrer - senhor, são as areias do tempo. O pouco tempo. O tempo que me resta.

Uma leve ventania movimenta parte da areia ao norte. Pouco, bem pouco. Quase nada. Quase tanto quanto o valor da vida dela.

Revela parte de uma placa, daquelas que prédios antigos da civilização anterior ostentavam.

Os antigos dizem para ignorar. “Quando partes do mundo anterior surgirem, vire as costas”.


O triste é que ela virou as costas com muita facilidade.

Eu, sendo parte do mundo anterior, senti-me ofendido. Minha alma abalada.


.

.

.

E ao sul, a coluna de poeira só aumenta.

Distorção social parte I

 2789. Este foi o ano.

O idiota gaba-se. Conseguiu.

Em meio a avisos BIOHAZARD em que, teoricamente, ninguém poderia se encontrar - se não é familiar, sequer se toquem.

O idiota gaba-se. Finalmente.

Carros movidos a energia solar contrastam com o cenário de novo oeste. Ninguém se respeita, nenhuma vida é preciosa. Neste cenário?

O idiota gaba-se. Acertou.

No alvo.

No centro.

Naquilo que buscava.

Um encontro na <sai daqui, tu não merece>

“A gente vai, pega os suprimentos, detecta a radiação. Se estivermos livres, a gente se explora. Se descobre.”

O idiota quebra a cara como, em todas as décadas de terra arrasada que a civilização enfrentou desde que se recolheu a bunkers de preservação humana, ninguém jamais havia quebrado.

Você

Não

Desperta

Em

Ninguém

A

Curiosidade

Necessária

Para

Se

Arriscar.

Errada? Não está.

Errada não está.

A errada? Não está. Volte depois.

sexta-feira, abril 24, 2020

Protegida


Dezenove anos, sem eira nem beira. Ao menos é como a mãe costumava recitar. Já tinha usado droga, já tinha transado com dois, já tinha se apaixonado pela amiga.

Sentido a dor de se separar de quem julgava amar. E até devia ter amado mesmo, mas com o tempo só imaginou que na verdade não existia amor - ou ao menos construía sua armadura com essa ideia que de verdade não tinha uma fibra de metal.

Uma armadura construída com uma malha de metal tecida pelas mãos de mil anões escandinavos e costurada pelas mãos de dez mil fadas do eire. Forjadas pelo fogo de cem mil djinns persas e ornadas pelas mãos de um milhão de artesãos encantados.

Ostentada por uma deusa guerreira apaixonada pela vida em uma batalha que



se

iniciou

perdida.

quinta-feira, abril 23, 2020

Ilusões do Cárcere

O tempo é uma ilusão, dizem os filósofos. Um conjunto de regras que apenas nós, humanos, parecemos seguir. E considerar.

Mesmo entre nós, porém, há aqueles que insistem em ignorá-lo. Em nortear a vida por outros princípios que não o tempo. Ela não era um deles. Para ela, o tempo era mais do que uma força real: era imperativo. Imperador. Era o paralelo infinito que parecia perdurar entre um estalo e outro, o surdo estalo que a água fazia quando, concentrada na umidade do teto, cedia à gravidade e escapava para espalhar-se novamente no chão de pedras.

Toc.

Deitada em bamba cama de palha, rente à parede na qual uma fonte parca e débil iluminava o minúsculo claustro, contava o tempo por meio das gotas que caíam com regularidade invejável aos mais precisos relógios.

Quando teria sido a última vez que olhou as horas em um relógio? Teria, na verdade, algum dia medido as horas em um relógio?


***


Ela não sabia dizer se dormira ou apenas se distraíra por alguns segundos. Mesmo que tivesse pego no sono, seguia cansada de sua inércia. É engraçado que, quanto mais a gente fica parado, mais cansado a gente fica.

Decidiu que havia dormido, pois não lembrava de ouvir as gotas na pedra fria. Era dia. Ao menos isso podia dizer com segurança pois o sol batia na janela que ficava no alto da parede em que se encostava. Deveria ser final de semana, pois os corredores estavam silenciosos.

Até que os gritos interromperam o silêncio com a indiscrição de um bêbado em uma loja de cristais. O sacro silêncio da eternidade. Assustou-se com os gritos de indignação do que parecia ser um homem sendo enclausurado contra a sua vontade. Como ela mesma havia sido infinitos estalos de gota atrás. Toc.

No início optou por se manter alheia àquela confusão. Não era a primeira vez que alguém indignado era preso contra a sua vontade, e ela sempre ouvia mais do que desejava. Os gritos, então, perduravam na sua mente durante vários sonos, até que esquecia-se - ou habituava-se. Não precisava de mais um tormento.

Mas desta vez parecia diferente. Apesar de todo o teatro, de toda a cena, algo naquela voz rouca não combinava com as palavras de indignação. Parecia, de certa forma, resignado. Não... aliviado com a situação.

Aproximou-se cautelosamente da porta de metal - que já não exibia mais as mossas de quando foi aprisionada - para dar mais atenção aos gritos. Quando finalmente achou poder discernir as palavras, os gritos pararam. Uma outra porta se fechou com um estrondo e exceto pelos passos distanciando-se no corredor, nada mais ouviu.

Voltou à sua cama e se encostou na parede fria. Depois do estalo de poucas gotas, perdeu-se novamente no devaneio de eras passadas em que era livre.

***

Despertada pelo som de batidas na pedra, levantou-se assustada. Já não havia luz, mas podia orientar-se pelo barulho que vinha da parede perpendicular à janela. Tateando no escuro, aproximou-se da fonte até que - com tenso receio - ouviu a pedra mover-se até cair no chão com um som abafado. Então silêncio. Por diversos estalos de água caindo no chão não pôde ouvir nada, até que...

Uma respiração!

Havia alguém, vivo, de carne, osso e necessidade de oxigênio na cela ao lado. Sua surpresa maior, porém, não veio desta constatação. Veio ao perceber que não sentia medo, apenas curiosidade.

- Há quanto tempo você está aqui? - Mal podia acreditar na brandura e tranquilidade da voz rouca que sem sombra de dúvidas era a mesma que gritara recentemente no corredor.
- Eu... eu não sei. Quem é você?
- Não importa, você jamais me conhecerá, a não ser que a gente descubra como sair deste lugar. Juntos.
- Mas é impossível, não existe...
- Coloque novamente a pedra no devido espaço se realmente acredita que é impossível.

Silêncio.

- ... Como?
- É tudo uma questão de tempo.

Continua (?)








quarta-feira, outubro 30, 2019

Meras memórias

Onde tu estava...

. . . quando eu mais precisei?
Quando a dor transpareceu, humano me tornei?
Quando a flor desabrochou, e o mundo a perdeu?
Quando a cor se distraiu, lavou, esmaeceu?

Onde estava o conhecido torpor...
. . . quando por ti chamei, Carreau?

Carreau, príncipe dos poderes, podre como os príncipes
Lorde entre os caídos
Nobre entre os perdidos
Pobre entre os amigos.

Contigo ao meu lado
Não seria acuado
Não perderia o cuidado...
...só sofreria calado.

Hoje, Carreau, anjo caído, me arrependo de não estar contigo quando tudo ruiu, quando descartei o que deveria manter e mantive o que deveria descartar.

Até aquele momento, Carreau, não havia momento anterior que fosse melhor ao atual. Sempre havia encarado o momento corrente como o mais bem vivido, encarado os anteriores como meras memórias, reles repertório para o futuro - que, evidentemente, viria para superar o presente.

Não mais.

Vivo, agora, pior do que já vivi. Menos do que já vivi. Pena do que já vi.

Agora, Carreau, se tu pudesses me conceder um pedido, faria o seguinte:

Transforma o agora em mera memória para tempos passados.

sexta-feira, agosto 09, 2019

Fogos de Artifício II


Seu ônibus habitual demorou demais.

Como era um terminal, com diversas paradas para vários coletivos, ela subiu no primeiro que ia no mesmo sentido de seu destino. Nem imaginava para onde iria, e não estava com ânimo para perguntar a ninguém.

Já tem alguma semanas que está de mau humor, antissocial. Sem paciência, especialmente para desconhecidos.

A música, alta, escapa pelos fones. A ideia é deixar bem claro que não quer conversa. Mas também apresentar seu gosto musical a quem se interessar, claro. Tudo é calculado, mesmo que inconscientemente.

Exceto o momento de descer.

Como era a primeira vez naquela linha, ficou atenta. E quando o motorista fez menção de pegar uma rua para sair de seu caminho corriqueiro, nem pensou duas vezes: sinalizou a descida.

A vizinhança era familiar. Identificou a avenida principal: "já estive aqui". Reconheceu os bancos da praça. A lixeira onde depositava as bitucas de cigarro. A entrada do prédio.

Um estalo; só esteve ali três vezes em toda sua vida, mas jamais esqueceria. Jamais esquecerá.

Decidiu demorar-se um pouco. Não para esperar, mas para rememorar. Tanto que sentou em um dos bancos mais distantes, encoberto pela copa das mais densas árvores. O expresso da memória reavivou dores e saudades há muito esquecidas.

Há muito relegadas a um espaço pouco visitado. Banido. Naquele momento, tudo retornava. As mágoas, os desejos. Os pesares, as lembranças. A melancolia. A vontade de esquecer - e recomeçar.

Foi então que percebeu a luz. Os sons. A felicidade, o entusiasmo, o regozijo. O júbilo.

Poderia jurar que viu fogos de artifício subindo da sua casa à noite passada.

Doeu. Mas ao menos alguém está feliz.



(First
aid
Kit - 
Fire
works)

quarta-feira, julho 17, 2019

Nove gatos

A borboleta velejou pelas brisas
E por um campo de árvores de arame farpado
Onde dragões dourados perseguiam
Papoulas mimadas no chão
Duas trutas de prata sentaram no alto
E assistiram a um samurai real
Plantar duas orquídeas negras em uma caixa
E dá-la para uma raposa que gargalhava
Um menestrel comprou uma colher torta
Deu-a a um babuíno azul
Que encheu-a de neve virgem
E assistiu-a brilhar

Um sapo gordo com seus sapatos de balé
Ensinando dezesseis cangurus
A pular em um lago
Eles descobriram que é difícil ficar acordado
Um faraó tocou uma música alegre
E viu nove gatos dançando na lua
Eu não sabia o que tudo isso significava
Eu não sabia por que eu tinha sido enviado.

Joguei cinco relógios em baixo da minha cama
Os sinos dançaram harmonias em fios de ouro
E viraram pegadas na minha parede
Lágrimas de lantejoulas começaram a cair.





(Por
cupi
ne Tre
es - Nin
e C
ats)

quinta-feira, julho 11, 2019

Fogos de Artifício I

A minha irmã é a esperta de nós duas. Ela escreve as peças, escolhe a temática, a linguagem e até mesmo a jornada entre dor e solução que nossas heroínas enfrentarão. Ela é a inteligente da dupla, e eu estou resignada com isso.

Ela inclusive jamais admitiria, mas eu tenho quase certeza de que é tudo baseado nas experiências que ela teve - e continua tendo. Eu consigo perceber por que é assim que funciona: a gente senta junto com mais algumas pessoas da equipe, e quando surge uma ideia base ela para, respira fundo (enquanto todo mundo continua conversando), e faz aquele movimento involuntário com a cabeça. É tipo, meio jogando pro lado.

Deixa eu explicar: no início da faculdade a gente estudou um pouco de linguagem corporal, e o movimento que a pessoa faz com os olhos - as vezes com a cabeça inteira - de olhar pra cima e pra direita serve para ativar a criatividade e iniciar a construção de uma imagem.

Foi quando comecei a observar as pessoas, inclusive ela, pra identificar esse e outros sinais. No início eu pensava que ela estava começando a criar uma narrativa; um mundo novo, todo dela naquele momento. Depois de refiná-lo ela iria nos trazer pra dentro e iríamos, juntas, desbravar essa recém criada dimensão.

Mas isso foi no início. Já no final, quando ambas estávamos próximas da formatura e mais independentes, me interessei ainda mais sobre técnicas de observação. Foi quando descobri que esse movimento também serve para acessar uma outra área da nossa mente: a memória. Então o grande trabalho que ela tinha para inventar esse novo lugar era lembrar situações em que ela enfrentou problemas parecidos com a ideia sugerida e adaptá-la à realidade e tema escolhidos.

É importante dizer que não estou depreciando seu trabalho. Uma das teorias que estudamos diz que criatividade é justamente isso: a capacidade de usar o raciocínio para moldar as memórias em torno de um problema para solucioná-lo.

Sim, eu só percebi isso por causa de nossa relação. Eu a conheço. Depois que passei a explorar essas técnicas de observação, aprendi a identificar nos roteiros as situações que ela enfrentou; ao menos as que eu fiquei sabendo.

Foi quando eu senti que finalmente a conhecia.

Felicia é uma pessoa difícil. Sempre teve dificuldade em se expressar, até descobrir o teatro. Ali ela podia, anonimamente, gritar ao mundo sobre suas dores. Por um bom tempo, ninguém entendia. Ninguém percebia que quando um de seus personagens era esfaqueado pelas costas é que ela estava se sentindo traída. Quando sua heroína era altruísta, tinha características de pessoas que ela admirava.

Quando suas vilãs justificavam suas transgressões, era de seus pecados que ela estava falando. Os pecados e, principalmente, suas razões.

Mas as estórias têm limitações. Não é possível transmitir a angústia de ficar sem ar em meio a uma crise de ansiedade, nem a dor de um sentimento de rejeição apenas com palavras; não se o leitor não passou por essa dor.

E aí começa o meu papel. É o meu momento de brilhar. Eu não tenho o dom da criatividade nem consigo inventar civilizações inteiras apenas com base nas minhas experiências. Mas com extrema facilidade consigo compreender a dor alheia e traduzi-la de forma que terceiros possam vivenciá-la também.

Sou capaz de interpretar o regozijo de uma conquista, mesmo que não faça sentido pra mim, e incuti-lo em pessoas que jamais planejaram aquele objetivo. Minha qualidade principal é reproduzir com tanta - ou mais - fidelidade o que ela projeta, e isso faz de nós uma dupla eficiente e insuperável.

Não entendeu? Vou tentar me expressar melhor: nós temos uma irmã mais nova. Ela se chama Carmela, e é aquele tipo de pessoa que chega a incomodar de tanta sorte que tem. Nada, absolutamente dá errado pra ela. Imprudente, irresponsável e espontânea, não se organiza pra nada. Tudo vem do momento, e eu realmente acredito que isso é a causa dos resultados frequentemente positivos.

Quando pensamos que alguma ação impensada irá trazer consequências negativas que irão gerar aprendizado, seu hedonismo é tão insistente que ela consegue se divertir e ganhar enquanto supera as dificuldades que surgem. Até os seus momentos tristes são enfrentados com sorrisos e gracejos, o que traz tanta leveza que naturalmente são transpostos com naturalidade.

Ou ao menos é o que pensava. Quando fomos desafiadas com uma temática de sentimentos camuflados, disfarçados, a descrição do protagonista foi suficiente para identificar, ali, nossa irmã caçula:

Descobri que ela ri por fora e morre por dentro.

E não me pergunte por que ela faz isso consigo todas as vezes. Ela sabe como vai terminar mesmo antes de começar. Mas não irei deixá-la sozinha na linha de chegada. Juntas marcharemos, de mãos dadas.