quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Dois.

- MÃE, me diz de novo o porquê.

Em mais ou menos vinte e quatro horas, essa era a décima quinta ou décima sexta vez que ela perguntava isso. "Papai do céu o queria perto dele, filha". Era essa a resposta que a mãe, sem nunca cansar de dar, repetia sempre. Talvez por que respondesse a si mesma.

Câncer. Não, não foi disso que ele morreu. Era o apelido dele. Ele fumava horrores, e o cigarro o matou. Não, não foi câncer ou alguma outra doença relacionada ao cigarro. Ou drogas. Um homem lhe pediu um cigarro, e ele deu. Mas o homem desconfiou de sua boa-vontade e enfiou dezoito balas nele.

"Eu não sou uma pessoa boa" era a frase que mais repetia. E realmente, pra muitas pessoas, não o era. Pra si mesmo, menos ainda. Mas era um bom pai. Sua maior vantagem era ter sonhos. E encorajar todos a perseguir seus próprios.

Mas seu maior defeito era não fazer o mesmo. Desistir era seu lema, principalmente quanto ao seus projetos. E foi isso que colocaram em sua lápide. "Um sonhador que agora sonha para sempre".

No dia do funeral, sua filha deixou cair uma flor, e esta voou até o outro lado do descampado. Para pegar de volta, teria que pisar em alguns túmulos. Olhou com cara de preocupada para sua mãe, que tranqüila e serena lhe aconselhou:

"Se você tiver respeito, pode pisar". E disse isso enquanto pisava nos próprios sonhos que, agora, sabia que não iria seguir.

"Meu Amigo, o Eu em mim mora na casa do silêncio, e lá dentro permanecerá para sempre, despercebido, inalcançável"
~ Gibran

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