domingo, junho 24, 2007

A Verdadeira História IV


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Com a descoberta, fiquei nervoso. Não sabia o que fazer. O cheiro das flores não era exatamente real; ou era? Eu estava deliberadamente escolhendo o mundo do meu distúrbio como o Meu Mundo real, e percebia isso. Era uma decisão, era... era justo. Eu precisava ter algo, e aquilo era meu. A garota me abandonou; me abandonou da pior forma possível. Deixou de ser, sem ter sido nunca. Somente no mundo...

||||| |E pensar aquilo me deu uma idéia! Se eu escolher aquele mundo como o meu, o meu mundo real, ela será pra sempre aquele anjo encantador, aquela alma boa que conversa com um bêbado, com olhos - pequenininhos - que podem me hipnotizar, mesmerizar de uma maneira que eu não queira acordar. E era exatamente aquilo que eu precisava e iria fazer. Como? Ora, já tinha um certo tempo que eu não fazia a transição, e não tinha a mínima idéia de como fazê-lo. Teriam sido as pancadas na cabeça?

||||| |Ao vê-l*s saindo do prédio, tive um acesso; não do jeito que queria, apenas parecia uma crise, uma explosão interna. Implosão?

- Ei! Menin*s!
- Hrmnm?
- Pensei cá com meus botões. Que tal sairmos? Amanhã é feriado, e esse fim-de-semana não foi lá essas coisas.
- Eu não posso. É aniversário da mãe do meu marido.
- Hmmm, por isso que eu não caso, Renat*. E você...?
- Você vai ficar bêbado daquele jeito de novo?
- É meu sonho.
- Bora. Mas você me deixa em casa de Taxi.

||||| |Estranho. Tão fria, tão ausente, mas aceita assim. Talvez... Talvez algo tenha acontecido. Mas lá fomos, pro complexo cheio de bares dois quarteirões depois da Soft. Tava passando um jogo de futebol, e procuramos o mais vazio, pra sentarmos. A conversa parecia morta, ela não conversava, não me olhava nos olhos. As respostas, monossilábicas, eram balbuciadas. Mas ela estava encantadora. De jeans, all-star vermelho, e uma blusa branca básica.

||||| |De repente ela decidiu falar. E parecia que éramos casados. Apesar do tom agressivo do discurso, era uma sensação boa. Ninguém discute com tanta paixão um assunto que não seja sério. Eu e ela éramos algo sério.

- ...E assim, do nada, você se levanta, compra um cigarro, paga a conta e vai embora. Eu achava que tava indo tudo legal, pô. E agora, você me chama pra sair de novo?
- Peraí... Eu que te deixei lá, no bar? Eu não lembrava! Como assim, não é p...
- Claro, culpa da bebida. Sempre é. Dimitri, não sei se você é louco, mas não dá pra viver nesse mundinho...

||||| |Quando ela falou do "meu mundinho", finalmente. Acho que o nível de emoção estava realmente alto, pois os clarões vieram com explosões. Raios? Relâmpagos! Linhas azuis, bolas coloridas, neve brilhante - não, não era neve; eram folhas de algodão luminoso -, e meu mundo apareceu, ainda mais colorido que todas as outras vezes. O chão encheu-se de grama, e as flores cresciam em câmera lenta (ou rápida, depende da perspectiva). E eu vi o rosto dela. Umas olheiras absurdamente sexies, abaixo de olhos frios, cinzentos. O cabelo, acima destes, era curto, com mechas meio onduladas, e de uma cor que eu não conhecia. Quando você trabalha com programação de computadores, seu repertório visual fica um pouco desatualizado. Ela ia trabalhar linda daquele jeito? Todo dia?

||||| |Então eu me levantei, puxei-a pelo braço, e ela sorriu. Aquele sorriso que paralisa, que "mesmeriza". E a beijei. Beijei com fogo, com graça, uma torrente de emoções; mesmo de olhos fechados, vi o céu. E era lindo. Molhado, uma saliva quente. Taquipnéia. Respiração ofegante e maravilhosa. O cheiro de sua boca era delicioso. Era canela. Ou cravo-da-índia. Não sei, sei que ela fumava, embora não tivesse acendido ainda um cigarro. O beijo, além de sexualmente excitante, me fez chorar. Chorei enquanto a beijava.

- Vem comigo.


E ela veio.


8 comentários:

  1. 'vamos ver até onde vai'

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  2. Anônimo10:50 PM

    Urbano sem deixar de ser profundo(axo q jah te disse, né?)

    Tou por akew aguardabdo o próx ;)

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  3. Anônimo10:52 PM

    *aguardando(tudo menos o estupro da língua) ;)

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  4. Anônimo2:16 AM

    e eu chorei enqto li.

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  5. Anônimo3:49 PM

    e foi nessas brincadeiras,que tentei saber o que ele sentia.
    mas quando voce se aproximou,tinha uma esperança dentro de mim,que as coisas mudariam...
    tentei ter as vidas das pessoas ,para poder entendelas. no final fiquei assim, um saco plastico cheio do vazio.
    chorei quando vi que nao era charminho,chorei quando li o que realmente sentiu,quais as emoçoes de uma pessoa.e essas realçoes nas quais vc relata me deixou com inveja.

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  6. no fundo as pessoas esperam essa simplicidade, ao mesmo tempo profunda imensidão de fatos.

    é de um detalhismo grande e ao mesmo tempo mil coisas acontecem ao mesmo tempo para que se dê valor a cada partícula delas.

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  7. lindo texto.

    acompanhar-lo-ei.

    Au Revoir.

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