segunda-feira, maio 05, 2008

Recompensa bruta

Houve um tempo, antes de cidades saberem sobre outras cidades, que uma destas prosperava mais do que a maioria. A cidade crescia a cada dia, em todos os sentidos. Os habitantes adicionavam duas fileiras de tijolos a cada rua que a circundava. O comércio sempre tinha mais material para vender, e a freguesia, mais dinheiro para comprar. E, claro, a cada dia, nascia cerca de um bebê, que viria a se tornar um novo habitante, e que iria comprar, vender e adicionar tijolos às ruas da cidade.

Para aquelas pessoas, a sua cidade era única. Fora dela só existiam desertos ou florestas, monstros ou comida, água e pedras. As pessoas não procuravam por outras cidades. Sequer imaginavam que existiriam. Mas justamente por crescer, por aumentar, elas começaram a enfrentar as dificuldades que as separavam do que quer que existisse do outro lado. Alguns percebiam que havia mais comida do seu lado da cidade, e quando ia adicionar sua parte nos tijolos da rua, colhiam mais vegetais e matavam mais faisões, ficando mais ricos e mais gordos.

Outros notaram que do seu lado, a água era mais fresca, e aumentavam suas cisternas para armazenar mais água, que seus filhos herdaram. Alguns, de outro ponto, tiveram que enfrentar mais monstros, e se tornaram ótimos guerreiros. E foram passando seus conhecimentos táticos e bélicos para os descendentes.

Já os que cresciam pro lado do deserto, tiveram que passar por maus bocados, que os forçaram a aperfeiçoar a pavimentação de forma que concluíssem seus projetos antes do tempo, para não passar fome, sede, ou enfrentar monstros noturnos. E estes, embora tenham perdido mais tempo devido às mortes no início da empreitada, logo concluíram o projeto. E chegaram a outra cidade. Após a surpresa e curiosidade iniciais, as cidades passaram a fazer comércio. Os habitantes dos outros lados pararam de trabalhar na expansão territorial, e corriam para este que era o do mercado. Pagavam então altos pedágios aos pavimentadores, que finalmente recebiam as justas recompensas por seu trabalho.

Quando, num dado momento as cidades guerrearam, os primeiros a morrer foram os pavimentadores.

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