Já eram três da manhã e ele não tinha dormido. Duas horas deitado no quase absoluto escuro, e nada do sono chegar. Não era insônia, nem pensava em coisas demais. Ele estava sem sono, apenas. Acostumado a dormir cerca de três horas por dia, na noite anterior dormira sete ou oito. E bêbado. Não conseguiria.
De olho fechado, revirava-se na cama, entre um trago- e outro. E exatamente entre um cigarro e outro, abriu os olhos. O que viu foi um clarão, iluminando a totalidade outrora nula de seu quarto. Alguns feixes repetidos, claros, como um flash. Alguns segundos depois, o trovão rasgava o quase-silêncio criado pelo hipnótico barulho do ventilador.
Seguindo este, outros vieram, relâmpagos e trovões, e ele ficou de olhos abertos, fumando e olhando para a janela de vidro fosco, que fechada, apenas permitia a visão dos clarões e do escuro. A chuva não havia ainda começado, e a cena lhe agradava. Coberto até a cintura, ele mexia as pernas pela agitação e excitação de esperar o momento da água cair. Continuava fumando.
Ao terminar o último cigarro, sorriu. Ninguém perceberia esse sorriso, seus dentes. Jamais alguém saberia que ele sorrira neste momento. Chegou a ouvir até alguns de seus próprios gemidos de alegria no sorriso. Como o presságio de uma gargalhada. Não passaram disso. Às três e quarenta, a chuva começou.
E ele desistiu de dormir, levantou-se e foi trabalhar.
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