quinta-feira, janeiro 10, 2008

Quero viajar este ano.

...Aquela ponte linda, de metal e concreto, meio antiga, e todo mundo batendo foto. Uma delícia, pô, a sensação: o vento, congelando até os ossos, e a gente lá, bem alto, bem alto! Foi ótimo! Todo mundo encasacado, olhando pro horizonte que dava pra ver lá de cima, e abaixo, o rio, e a gente sabia: quem cair, tá morto. O rio tava tão frio que juntava neve nas margens, pô.

Depois que todo mundo tirou as fotos, a gente decidiu continuar. Atravessamos o resto da ponte, e todo mundo parou num café que tinha lá. Bem ponto turístico, logo no finalzinho da ponte, cheio de souvenir, e, claro, todo mundo comprando. Tinha uns mapas lá, réplicas do mapa utilizado pelos primeiros moradores da cidade. Eu comprei logo dois, tava barato. Depois sentei sozinho - meus amigos estavam ocupados comprando presentes - e pedi uma cerveja preta.

Sentado ali, aproveitando a espuma cremosa, sentindo o vento forte e os raios do sol iluminando tudo, eu comecei a pensar. Decidi que era ali que eu iria morar, algum dia, e quem sabe, terminar os dias seguintes vivendo numa comunidade daquela. Seria um dia e tanto.

O pessoal terminou de fazer as compras e decidiu beber. Sentaram-se todos e começaram a rir, e contar piadas, e mostrar os presentes que tinham comprado pras famílias, amigos, e tal. Eu me levantei e voltei caminhando até a ponte. Quando cheguei no meio dela, algumas pessoas da excursão estavam por lá, fotografando, e eu percebi um pequeno grupo que eu não lembrava de ter visto, admirando o horizonte, como eu havia feito há alguns minutos. De repente, um papel escapa da mão duma garota, e sai voando. Eu disse, o vento tava forte.

A garota era linda, dum jeito especial. Não tinha nada demais, não era uma deusa. Mas era linda. Adorei os cabelos. E o papel? Voava, e voava, em minha direção, descrevendo uma espiral forçada pelo vento. Caralho, que cena: a garota começava a correr, tentando pegar o desgraçado do papel, enquanto ele rodopiava como que dançando, no ar, mais rápido que ela, mas nem muito alto para que ela não alcançasse, nem baixo o suficiente pra que caísse e parasse no chão. Em minha direção.

Quando o papel chegou perto de mim, tentei pegar. Com um pulo, estendi a mão e cheguei a sentir a folha em meus dedos. Também deu pra ver que era uma daquelas réplicas de mapa, que eu vira na loja. Pensando bem, lembrei que o grupo tinha acabado de sair da lojinha do café no momento em que pedi a cerveja. Sim, mas... A droga do papel escapou, de mim e da ponte, e foi descendo, ainda em espiral, fazendo menção de subir de volta, mas depois voltando a cair.

Até que caiu. Caiu no rio, e foi levado pela suave correnteza. E eu fiquei lá, como um babaca, debruçado sobre o corrimão pintado de laranja, vendo o papel boiar no rio. Droga, o papel dela. E aí percebi que ela estava do meu lado, olhando com um sorriso meio simples, frustrado, mas sem aparentar estar mesmo triste. Sorriu pra mim e "brigada por tentar", Com os olhos fechados, a cabeça meio pro lado, meiga.

Lembrei então que havia comprado logo dois, tava barato.

4 comentários:

  1. Suave, delicado como um carinho.

    Lindo!

    São esses acasos simples que dão cor a vida.

    =***

    ResponderExcluir
  2. Anônimo12:09 AM

    Como é que você consegue emocionar com algo tão singelo?
    E que fixação é essa por cabelos que ando reparando nos últimos textos? (ou é só impressão?)

    Diadorim falou em cor...e que cor!

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir