quinta-feira, agosto 30, 2007

Sepukku

O Relógio do parque batia 23 horas. Onze da noite. Na vera, era proibido ficar até essa hora. O parque fechava às 21. Nove da noite. Mas el* ficara meio que escondidinh*, no último banco, depois da jaula dos macacos-prego. Engraçado, isso. Um parque, com vários motivos de saúde, pista de cooper, exercícios, etc. Cheio de plantas, crianças correndo (de dia, pelo menos), e cheio de jaulas também, com animais enclausurados.

De repente um apito. Putamerda, os seguranças *. "Se me pegarem aqui, vão telefonar. Vão telefonar, ou no mínimo, com sorte, apenas me mandar sair do parque". É quando começam os calafrios, a sensação. Adrenalina, isso pelo menos el* tinha aprendido. Muita adrenalina. Levanta e corre pra trás da jaula, segundos antes dos seguranças dobrarem a esquina. Tá escuro, não vai dar pra vê-la. Os macacos só precisam ficar quietinhos.

Quando levantou do banco, o vento começou a movimentar-se. Mais, mais forte. Mais adrenalina. Seus cabelos, compridos pra negar a tendência atual, eram de um laranja intenso, e meio que iluminaram todo o caminho entre o banquinho e o corredor. Seus olhos, pretos como piche, criaram um rastro de luz branca (pelo reflexo) que parecia efeito de cinema, em filme de terror. Um não, dois; eram dois rastros, por serem dois olhos.

Os seguranças passaram e viram todos esses indícios, o raio de luz laranja parecendo fogo emitido pelos cabelos, os rastros brancos das bolinhas, reflexos das luzes dos postes nos olhos. Perceberam a mudança no vento, que ficou bem mais forte, e mais frio. Percebram todas as pistas psicodélicas desse movimento. Inclusive, até acreditaram ter visto um vulto entre as folhas de bananeira e o corredor atrás da jaula dos macacos-prego. Mas as atribuíram à maconha que haviam fumado minutos antes.

El* escapava mais uma vez, e isso já estava se tornando um hábito. Talvez o sucesso ao escapar também, mas principalmente a necessidade. Necessidade de fugir. Não iria querer mais estabelecer relacionamentos. Iria fugir pro resto da vida, manter-se ausente. Sua intenção era extinguir de vez as bolinhas que representavam o brilho nos olhos. Talvez até mudar o cabelo. Não merecia.

Iria pra longe, arrumar um emprego medíocre. Medíocre justamente por isso, para se identificar com seu ego. Era assim que se torturava por ter feito qualquer coisa repreensível. Sua consciência a repreendia na intenção de lhe colocar "no seu lugar". "Você não tem capacidade pra isso, com que intuito o fez?" ou "como tem coragem de pensar em fazer isso, se você tem esse retardo mental?"... "Com que direito?".

Mas dessa vez fora longe demais. Aparentemente, sua consciência * havia abandonado, por desistir de sua redenção. Mas continuaria agindo como se ainda a tivesse. Como que na intenção de mostrar pra ela que sabia se punir sozinh*, mas gostava da presença de uma entidade superior. Redenção, era isso que a consciência lhe prometia. Mas algo lhe viria à mente: Acaso os macacos-prego têm redenção, uma vez que não têm consciência? Se não tiverem, aliás. Mas ainda assim são seres vivos. E merecem a redenção. A salvação.

Naquele momento não pensara nisso, apenas em dar-lhes um pouco da sensação de estarem salvos, livres. E com isso, el* se sentiria safo, libertin*. Eis a parte boa de estudar em uma escola comandada por freiras. Lá, se aprende de tudo. Desde fumar até arrombamento. E foi o que fez: com uma mola retirada do isqueiro (não tinha mais cigarro, era desnecessário, então) abriu o enorme cadeado que separava os macaquinhos da liberdade do parque. Abriu a grade e entrou na jaula.

A princípio, os macacos-prego estranharam. Mas logo começaram a se exaltar, e em poucos minutos, todos haviam saído da jaula. Mas a jaula não estava vazia. Nela deitava uma pessoa, de cabelos laranja, com uma faca enfiada na barriga. Seus olhos não exibiam mais as bolinhas brancas de luz, talvez por já ter morrido, talvez por que a jaula era escura. E o sangue escorria em direção aos cabelos. Como era sua intenção, mudar os cabelos e perder o brilho nos olhos. Não merecia.

4 comentários:

  1. Anônimo7:22 PM

    Triste a morte de mais um personagem belo.
    Existem tão poucos =~

    (Fuderosamentefuderosoessetexto)

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  2. Anônimo7:23 PM

    orgulho =~~~~
    (vontade de salvar)
    orgulho de novo =~~

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  3. Anônimo10:58 PM

    vá fazer le sepukkour e tomar no cu oi

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