domingo, março 16, 2008

Sete e final.

Pepe gosta de viajar. É tão simples. Não, não é tipo uma resposta a um formulário, como "quem é você?" e "alguém que gosta de viajar”. Não, ele é mais que isso. Mas no todo, tem isso. Pepe gosta de companhia, gosta da companhia de várias pessoas. Algumas em particular, ele se importa mais. Ele não gosta de ser, estar ou ficar sozinho. Mas antes de tudo, ele gosta de viajar.

Então o que acontece quando ele vai sair de onde está, passar pra outro mundo? Acaso ele quer alguém que o acompanhe? Não. Antigamente, Pepe gostava. Ele fazia de tudo para que as pessoas o acompanhassem. A companhia delas podia se estender por mais tempo, existir mais. E isso fazia Pepe existir mais. Ele chegava a uma cidade, conhecia várias pessoas, e de repente, construía uma idéia ao redor delas. Quando chegava a hora de partir para outra cidade, Pepe até oferecia carona a uns ou outros. Poucos aceitavam, mas os que iam, gostavam.

Mas houve momentos na vida de Pepe que ele precisava estar só. Para conhecer outras pessoas. Para fazer novos amigos e construir novas idéias. Ele tinha objetivos que precisava cumprir só. E suas companhias não entendiam isso. Não acreditavam que ele viveria algo sozinho. Pepe não podia sequer dormir só. Desenhar só. Então chegava um momento que ele dispensava as companhias. E com a separação, vinha a dor. A agonia de interromper uma companhia, a situação que Pepe sempre adiava o máximo possível.

Ele passava um bom tempo chateado pelo fato de que as idéias que construíra por um tempo se tinham ido. Era desestimulante e desanimador saber que ele iria perder tudo que construíra. Mas Pepe logo chegava a outra cidade, e conhecia novas pessoas. Era tudo maravilhoso, e o tempo que dedicava a pensar nas idéias antigas diminuía - claro que não se extinguia, mas diminuía bastante. E quando chegava a hora de partir novamente, Pepe não oferecia caronas. Ele sabia o que poderia acontecer. Mas depois ele se sentia solitário, e tudo começava novamente. Pepe não era uma pessoa sozinha.

Esse era um ciclo que se repetia sempre. E, como tudo na vida, dava experiência a Pepe. Depois de algumas voltas, ele já demorava mais para se sentir seguro o suficiente para oferecer caronas, e eventualmente, o dia chegou. Chegou o dia em que Pepe entrou em uma cidade no anonimato, e não construiu idéia alguma. Chegou, sentou só, bebeu só, brincou só, desenhou só. E partiu só. Não queria mais companhia alguma. De pessoa alguma. Seria doloroso demais ter que se despedir novamente. O contato que Pepe fazia com qualquer pessoa se tornara fútil e superficial. Às vezes ele até mentia o nome. Eu sei disso. Descobri recentemente que o nome dele não era "Pepe".

"Meu Amigo, tu não és meu Amigo, mas como te farei compreender? Meu caminho não é o teu caminho. Contudo juntos marchamos, de mãos dadas."
~ Gibran

3 comentários:

  1. Pepe é nome de carteiro mexicano (além de Jaiminho, claro).

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. pepe era o 'nome' de um prof meu de biologia xD

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