Hoje completo três anos de abstinência. Da minha terra, do meu país. Três anos vivendo fora, vivendo longe, vivendo distante. Vivendo o que eu acredito ser uma vida normal.
É que a vida que eu tinha não era a apropriada para alguém que vive mais que o esperado. Com meu ritmo, com tudo que eu fiz, quis, por um triz; não, não seria possível manter aquela vida. Então decidi mudar, e mudei bastnte.
Deixei as drogas.
Deixei a carnificina.
Deixei a luxúria.
Tudo em troca de uma vida melhor.
...
Uma vida sem drogas, carnificina e luxúria... é melhor?
Hoje, que empapo os pensamentos em vinho espanhol, reflito sobre a troca.
Eu sempre quis uma casinha de cerca branca, filhos, cachorros e um lugar para cair morto. Porém, no qual poderia viver um pouco antes. Viver bem, como nos filmes.
É algo que, hoje, me aproximo.
Mas será? Será o que eu quero?
Hoje eu completo três anos vivendo sem droga, carnificina, luxúria e - um pouco - sem Dimitri.
E hoje olho pra trás, pergunto por Carreau e não entendo por que não sou mais assim. Por que cojones não posso simplesmente seguir frio duro e triste, porém satisfeito e sozinho?
...
Três anos para alguém que tem quase quarenta não deveriam representar muito. Não são nem dez por cento do já vivido.
Porém quando isso representa o que vem a seguir, acho que tem um certo impacto.
Não estou queixando-me. Poderia ser pior. Poderia ser igual.
Mas do jeito que está, talvez aquele velho objetivo de live fast, die young, não estaria tão mal.
Só gostaria de ter vivido plenamente. E pouco a pouco vejo que tudo que eu fiz
As drogas
A carnificina
A luxúria
Poderiam ter sido mais.
...
Veja o mineiro: teve tudo que eu busco. E de que lhe serviu?
Tenho medo de acabar assim. Tenho medo. Tenho... tenho uma vida que me dá medo perder.