terça-feira, junho 27, 2017

Cada vez mais perto

Menina não. Dez anos se passaram, então, era esperado que ela se tornasse uma mulher. E que mulher. Os cabelos continuam laranjas (mas já foram amarelos, e outras cores também, sempre voltando ao laranja).

Mas de resto, tudo mudou.

Não tem mais aquele brilho no olhar.

Não tem mais aquela expressão de dor e contemplação.

Não tem mais aquela inocência.

Endurecida, pela vida (e pelas mortes), a mulher de cabelos laranjas que encontrei tem pouco daquela menina, que encontrou a ilha; que libertou os macacos; que sentiu o gosto seco dos paralelepípedos na rua.

Uma coisa é certa: é ela; era a ela que eu procurava. E quando a vi, tive certeza que era ela que me ajudaria a encontrar Dimitri mais uma vez.

Eu a vi pela primeira vez em um dos poucos momentos em que decidi tomar meu whisky fora de casa. A situação foi completamente diferente de quando Dimitri conheceu seu anjo. Não foi um momento bucólico, ou meigo. Foi mais próximo de insano. Violento. Doente. Adulto, em um sentido diferente.

Não, sem sexo. Sem maldade. Sem verdade.

Assim como aconteceu com Dimitri há 10 anos, o amanhecer trouxe surpresas. Talantes, vontades. Certezas. E aí, uma semana se passou, à distância. À deprê. A gente se bateu, o santo bateu. O coração? Bateu.

E aí ela me perguntou: Um contra um: rolou um clima né?

O que eu vou dizer? Mentir que sim? Mentir que não? Em qual eu estaria mentindo, afinal? Então tudo começou: da despedida à recepção. E sabe o que é pior?

Até agora ela só morreu duas vezes:

Na primeira, me vi com febre; doente; acabado. Seu sumiço apenas se agregou à minha vontade de sumir. Mas estávamos distantes, então foi mais fácil ignorar.

A segunda vez foi logo após um beijo.

Aí não tem o que fazer: a culpa sempre será desse beijo.

Malfeito maldado malpensado.

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