sábado, julho 01, 2017

A culpa sempre será do beijo

Malfeito. Maldado. Malpensado.

E agora evitado. Adiado. Postergado.

Ignorado.

Negado.

E eu ainda aceno para os pontos na praia.

Continuo acenando para os barcos

Quando eu era uma criança, com meus doze anos ou menos, morava em uma cidade costeira. Vivia na praia, brincando com as ondas do mar, fazendo pequenos e feios castelos na areia, e acenando para os barcos que se distanciavam aos poucos, até virarem pequenos pontos.

Sempre tive uma imaginação fértil. Criatividade e facilidade de metaforizar. No entanto, nunca vi aqueles montes de areia como castelos. Não conseguia imaginá-los como grandes fortalezas, abrigando cortes medievais.

Já os pontos, eu conseguia. Sabia o tamanho, a tripulação, a escola do barco. Sabia nada, lógico, mas imaginava. Às vezes eu podia estar olhando para uma pedra, mas pra mim era uma grande fragata, que claramente me ignorava, sem sequer imaginar que alguém acenava na distante praia.

E até hoje, eu ainda aceno para os pontos distantes na praia.

Ainda bato minha cabeça no chão em meio às crises.

Ainda sou uma sombra, fácil de ignorar.

Eu fiz o mundo acreditar que não me importo com nada, até o momento em que o mundo desistiu de tentar conquistar meu interesse. Não me arrependo, jamais; o impacto negativo de se importar com algo

Ainda

É

Pior

Que

Simplesmente

Desaparecer.

E por isso, eu me apago novamente, me faço desaparecer, como em um passe de mágica. Acenando para os pontos no distante horizonte, mas sendo fácil e peremptoriamente ignorado. Dúvida?

Onde estou, então?