sábado, setembro 04, 2010

Aonde foi o Dimitri?

Fui abandonado pelo Dimitri. Já há algum tempo que ele não aparece, não visita. O que pode ter acontecido com ele? Morto? Indigente?

Na verdade, é meio óbvio: eu o abandonei. Dei as costas ao meu melhor amigo, meu irmão de sangue, carne e osso. Depois de um tempo juntos, dividimos nossas personalidades, e ele decidiu percorrer outros caminhos, e o respeitei. Mas foi egoísmo meu, respeita-lo assim. Não por que ele não merece esse respeito, mas pelo que eu senti; deixei-o ir por querer, eu mesmo, um tempo meu, com os meus, com minha vida.

O pobre foi-se assim, e eu só lhe disse boa viagem. Foi quase como dizer "não preciso mais de ti".

Mas preciso. Amo-o mais que a mim mesmo. E, em meu egoísmo, esqueci do seu. Em meu egoísmo, esqueci que ele também me ama, e precisa de mim mais do que tudo neste (e no seu) mundo. Ele precisa de mim para respirar, para sorrir, para que minhas mágoas alimentem suas cores e raios; seu mundo distorcido, o único lugar onde se sente pleno e satisfeito.

Em meu egoísmo, esqueci do seu.

Volta?

sábado, março 13, 2010

As poderosas ruas de Malta

Adriano caminhava indolente pelas ruas de Valetta. Tarde da noite, as ruas estavam desertas. As pessoas acordam cedo em Malta, e durante a semana, poucos se aventuram à noite. Não, não é perigoso ou violento. Simplesmente não gostam de trabalhar com sono ou ressaca.

Embora não seja perigoso, não dá pra deixar de ter cautela. Estar preparado é um lema escoteiro que se aplica em qualquer situação, qualquer nação e para quaisquer pessoas. Eis o problema de Adriano: a indolência. Ele sempre achou que não precisava desta atenção ao seu redor.

Adriano era naturalmente forte: alto e de ombros largos, tinha braços e pernas compridos. Rosto de mármore, queixo quadrado e protuberante, não andava curvado e sim com uma postura de atitude. Acostumou-se desde pequeno a portar-se desta forma com seu pai, ex-pugilista.

Dito isto, ele não tinha muitos problemas. Não era o biótipo de quem era procurado por criminosos da noite maltense.

Mas Adriano não sabia artes marciais. Nunca frequentou uma academia. Quando criança, chegou a praticar futebol e hóquei, esportes dos seus ídolos. Só que nunca desenvolveu um vigor atlético de destaque. Era pura aparência.

Com todas estas características, Adriano percebeu os garotos à sua volta tarde demais. Crianças, não pareciam se aproximar dos dezoito. Mas eram vários. Apesar de sua pouca experiência com brigas de rua, ele conseguiu mantê-los longe, com uma mistura de finta, empurrões e corrida, até chegar na casa de sua amiga Maria. Ainda chegou a ver os garotos virando à esquina, mas eles souberam que não adiantaria. Maria já abria a grade que a separava de seu amigo.

E admirador. Adriano, embora nervoso e taquipneico, percebeu uma boa oportunidade para se aproximar de Maria. Abraçado à sua musa, começou a beijar o lóbulo de sua orelha direita, enquanto exagerava voluntariamente a tremedeira de sua mão esquerda.

Com um misto de pena e excitação, Maria cedeu à primeira vez que Adriano apertou sua bunda. Aos beijos e carícias, convidou-o para seu quarto.

sábado, janeiro 16, 2010

O primeiro e único imperador de uma nação

Houve um louco. Bem, para todos ele era considerado louco. Mas para si, ele era um rei. Um imperador, mais especificamente falando.

Sua rotina era rígida: O imperador acordava cedo, e inspecionava os funcionários públicos de seu império todas as manhãs, de domingo a domingo. Caminhava pelas ruas e exigia respeito. A maior parte do tempo, conseguia. Quando não, ignorava. Sabia de seu posto e era o que importava. Os loucos que negavam recebiam seu perdão.

Foi o melhor imperador que uma nação pôde querer. Ele exaltava a pátria. Honrava seus cidadãos. Lhes dava ânimo e estímulo para reivindicarem aquilo que lhes faltava. Além de rei, ele era um símbolo.

Em toda a sua vida, os poucos que ousaram lhe questionar eram repreendidos pelos outros que o admiravam. Ele foi, para todos os efeitos, um bom rei.

O primeiro e único imperador daquela nação morreu sem herdeiros. Na sua lápide, lê-se: o Imperador não matou, não roubou e não expulsou ninguém de seu país. Não poderíamos dizer isso da maioria dos indivíduos que exerceram seu cargo.

Uma homenagem ao homem cuja história me fez chorar.