quinta-feira, dezembro 07, 2006

Descobertas


- Me empresta tua Istorme-Machin-Gã-Drim-Destróier?
- Caralho, empresto nada! Comprei agora, vou brincar até enjoar!
- Mas tu num tem também a Bâle-Fáiar-Uóter-Pruf-Armor-Ofe-Godes?
- É, mas usando as duas eu fico invencível!

Rogerinho era um menino egoísta. Havia três semanas, ele ganhou os dois brinquedos (réplicas de armas e coletes do exército americano) e não parava de usá-los. Os brinquedos não queriam ser de mais ninguém, só dele. Ora, pelo menos ele achava isso. E se eram deles, ele achava certo.

Só que seu Malaquias, pai de Rogério, era muito rigoroso. Uma vez, quando preparavam-se para viajar, ele deu um ultimato ao guri:
- Só leva um dos dois.
- Oxe, painho, mas eles são de um conjunto!
- Mas são duas tralhas da porra, e eu não vou pagar excesso de bagagem. Ou um, ou outro.
Rogerinho ficou preocupado. Não é que ele gostava dos dois com a mesma intensidade. Nem sabia se gostava mesmo. Era egoísmo puro. Os pais, os professores, os coleguinhas, a irmã. Todos sabiam que se tratava de puro sentimento de posse, e do orgulho que dava tê-los. Mais um do que o outro, claro (de que serve um colete sem uma metralhadora pra fight-back?). Mas o que importava era o conjunto. Ele se sentia um verdadeiro Major Dutch, ou um Soldado Universal. Era isso que importava, ter os dois. Enquanto os coleguinhas tinham um, ou nenhum, ele tinha dois. E agora, teria que decidir. Viajar pra excursão da escola com os dois trambolhos era proibido pelo pai. Mas os coleguinhas iriam se perguntar "Ôxe, cadê o outro? Ele não tinha ddooiiss?", e ele não iria suportar os olhares inquisitivos, e até debochantes dos guris. Essa idade é foda.

Rogerinho então teve uma idéia. Uma semana antes da viagem (ou seriam dois dias?), ele decidiu passar um dia com um, outro dia com o outro. Passou a segunda-feira INTEIRA vestindo a Buller-Fire-Water-Proof-Armor-Of-Gods. Escreveu o que sentiu, o que pensou, as brincadeiras com os amigos, e foi dormir.

Na terça-feira, Rogerinho saiu desprotegido de sua super-armadura, porém, mais ofensivo, portava sua Storm-Machine-Gun-Dream-Destroyer. Quando miravam nele, ele se esquivava, tentava não levar as balas que o colete impedia de atingí-lo. Mas "matou" todos os pivetes, pois dessa vez, ele tinha o poder. O poder da Dream-Destroyer, grande arma do filme lá. Aquele que ele assistiu. Na hora de dormir, escreveu novamente. Mas dessa vez, foi muita página, pô. O Caderno do pivete vai ter de ser trocado.

Ficou claro pra Rogerinho, pro pai, pros colegas... Pra todos. Rogerinho preferia a arma. A arma causava maior inveja nos guris, não só de sua classe, e sim, de todo o colégio. Até os mais velhos, os da sexta série. Dizia na caixa que a arma destruía sonhos.

O guri ficou chateado por não poder levar os dois, e causar mais inveja ainda. Até causaria reações divergentes, uns diriam "Porra, ele tem dois. Como pode? Eu só tenho um!" e outros diriam "Que filhinho de papai. Tem os dois.". Mas falariam dele. Fale mal, mas de mim.

Rogerinho chegou em seu quarto, a mala quase pronta. Só tinha o espaço pra mais um brinquedo. Ele olhou pros dois, e virando pra Metralhadora (réplica), disse:
-Você vai pra Rochalândia comigo! (Rochalândia era o lugar da excursão).

A arma sorriu e pensou "Ele gosta de mim".

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Serendipidade (ou escrito nas estrelas)


Do you (still) believe in fairy tales?
Let me die (standing) in my footsteps before i go down under the ground.
It's friday, i'm.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Fantasia parte 1

Rivaldo Marinho acordou cedo naquele dia. Às seis da manhã ele já tinha tomado banho, e estava calçando o sapato preto sobre a meia também preta.

- Só vou trabalhar até as duas. - pensou Rivaldo.

Ele foi em direção à cama, onde deitava Dona Penha. Deu um beijo na testa dela, e ela acordou. Foi no quarto, e acordou os meninos a grito.
- Bora, desgraça, acorda! Tá na hora da escola!
- Ah não, mainha, ainda tá cedo! Joguei bola até umas onze ontem!
- Foi uma disgrama pra eu botar vocês de manhã. Bora, acorda!

Rivaldo chega no terminal às sete e meia. Dona Amara já está lá, com o copinho de café na mão, esperando seu Rivaldo sentada em frente ao ônibus.
- Booora, fia. Simbora que eu quero rodar só até as duas hoje!
- Sim, mas se atrasar a rota, a gente num pode fazer nada.
- Eita que Roberval num fez direito ontem não, né? O mau-humor tá bom que só!
- Mas se meta com a sua vida, sujeito!

Rivaldo dá a partida no Busscar da Borborema. São dez da manhã e o primeiro probleminha acontece. Engarrafamento na Caxangá.
- Putaquepariu! Já tô perdendo uns quarenta minutos nessa brincadeira.

Às doze e quarenta, Rivaldo termina a penúltima viagem.
- Porra. Me fodi. Só termino às três e meia. A mulher vai dar o caralho!
- Calma, Nosso Senhor escreve certo por linhas tortas.¹

Às catorze e trinta e cinco, Rivaldo chega na frente da UFPE, o Centro de Filosofia e Ciências Humanas.
- Ainda bem que tem pouca gente hoje. Geralmente a essa hora tá cheio de bóizinho indo embora da faculdade.

Quando Rivaldo olha pro lado, vê um* garot*de camisa verde esbarrar num* garot* de roupa folgada.
- Desculpa! - diz * menin*. El* tá com uma cara de quem bebeu.
- Nada, relaxa. - diz * menin*, com um sorriso simpático. Isso só quem percebeu foi D. Amara, a cobradora.

Rivaldo e Dona Amara não sabem. Mas no dia seguinte, os mesmos se encontraram.
E * menin* perguntou:
- Ah, você é * garot* do ônibus, né?

¹Nosso senhor é o caralho!

sábado, dezembro 02, 2006

Fantasia

- Ah, você é * garot* do ônibus, né?
- É, sou. E você é * garot* do feather na tela? Com trilha sonora de Alphaville ou Duran Duran, né?
- Sou. E entrei na sua vida pra tornar as coisas mais engraçadas, mais fantásticas e mágicas.
- E eu entrei na tua pra quê? Que papel tenho nisso, se não pra trazê-la abaixo?
- Pois é. A gente dá, e vem cada coisa de troco...
- Não, que é isso, pô? Eu não pretendia.
- Nenhum de nós...
- Não pensei nas consequências. Pensei sim. Pensei. Mas quis fantasiar mais um pou...
- Vamos não? Vamos voltar à realidade.
- É. Agora comecei a receber a punição.
- É?
- É.
- Qual?
- Saber que te machuquei.
- Não me machuquei. (surge "mentira" na testa del*)

El* fantasiou e el* aceitou. El*s se enamoraram. Nasceu um grito na garganta d*s d**s, que quis sair. E não saiu. Foi reprimido. No futuro, ou dirão "ainda bem" ou "que merda que fiz" por causa dessa repressão. Mas o conceito de futuro é relativo. Não, não é relativo. É aleatório. O nome disso é Fenomenalismo. É, mais adequado, pois...

Foi uma fantasia fenomenal. É quando o despertador toca.