quinta-feira, dezembro 07, 2006

Descobertas


- Me empresta tua Istorme-Machin-Gã-Drim-Destróier?
- Caralho, empresto nada! Comprei agora, vou brincar até enjoar!
- Mas tu num tem também a Bâle-Fáiar-Uóter-Pruf-Armor-Ofe-Godes?
- É, mas usando as duas eu fico invencível!

Rogerinho era um menino egoísta. Havia três semanas, ele ganhou os dois brinquedos (réplicas de armas e coletes do exército americano) e não parava de usá-los. Os brinquedos não queriam ser de mais ninguém, só dele. Ora, pelo menos ele achava isso. E se eram deles, ele achava certo.

Só que seu Malaquias, pai de Rogério, era muito rigoroso. Uma vez, quando preparavam-se para viajar, ele deu um ultimato ao guri:
- Só leva um dos dois.
- Oxe, painho, mas eles são de um conjunto!
- Mas são duas tralhas da porra, e eu não vou pagar excesso de bagagem. Ou um, ou outro.
Rogerinho ficou preocupado. Não é que ele gostava dos dois com a mesma intensidade. Nem sabia se gostava mesmo. Era egoísmo puro. Os pais, os professores, os coleguinhas, a irmã. Todos sabiam que se tratava de puro sentimento de posse, e do orgulho que dava tê-los. Mais um do que o outro, claro (de que serve um colete sem uma metralhadora pra fight-back?). Mas o que importava era o conjunto. Ele se sentia um verdadeiro Major Dutch, ou um Soldado Universal. Era isso que importava, ter os dois. Enquanto os coleguinhas tinham um, ou nenhum, ele tinha dois. E agora, teria que decidir. Viajar pra excursão da escola com os dois trambolhos era proibido pelo pai. Mas os coleguinhas iriam se perguntar "Ôxe, cadê o outro? Ele não tinha ddooiiss?", e ele não iria suportar os olhares inquisitivos, e até debochantes dos guris. Essa idade é foda.

Rogerinho então teve uma idéia. Uma semana antes da viagem (ou seriam dois dias?), ele decidiu passar um dia com um, outro dia com o outro. Passou a segunda-feira INTEIRA vestindo a Buller-Fire-Water-Proof-Armor-Of-Gods. Escreveu o que sentiu, o que pensou, as brincadeiras com os amigos, e foi dormir.

Na terça-feira, Rogerinho saiu desprotegido de sua super-armadura, porém, mais ofensivo, portava sua Storm-Machine-Gun-Dream-Destroyer. Quando miravam nele, ele se esquivava, tentava não levar as balas que o colete impedia de atingí-lo. Mas "matou" todos os pivetes, pois dessa vez, ele tinha o poder. O poder da Dream-Destroyer, grande arma do filme lá. Aquele que ele assistiu. Na hora de dormir, escreveu novamente. Mas dessa vez, foi muita página, pô. O Caderno do pivete vai ter de ser trocado.

Ficou claro pra Rogerinho, pro pai, pros colegas... Pra todos. Rogerinho preferia a arma. A arma causava maior inveja nos guris, não só de sua classe, e sim, de todo o colégio. Até os mais velhos, os da sexta série. Dizia na caixa que a arma destruía sonhos.

O guri ficou chateado por não poder levar os dois, e causar mais inveja ainda. Até causaria reações divergentes, uns diriam "Porra, ele tem dois. Como pode? Eu só tenho um!" e outros diriam "Que filhinho de papai. Tem os dois.". Mas falariam dele. Fale mal, mas de mim.

Rogerinho chegou em seu quarto, a mala quase pronta. Só tinha o espaço pra mais um brinquedo. Ele olhou pros dois, e virando pra Metralhadora (réplica), disse:
-Você vai pra Rochalândia comigo! (Rochalândia era o lugar da excursão).

A arma sorriu e pensou "Ele gosta de mim".

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Serendipidade (ou escrito nas estrelas)


Do you (still) believe in fairy tales?
Let me die (standing) in my footsteps before i go down under the ground.
It's friday, i'm.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Fantasia parte 1

Rivaldo Marinho acordou cedo naquele dia. Às seis da manhã ele já tinha tomado banho, e estava calçando o sapato preto sobre a meia também preta.

- Só vou trabalhar até as duas. - pensou Rivaldo.

Ele foi em direção à cama, onde deitava Dona Penha. Deu um beijo na testa dela, e ela acordou. Foi no quarto, e acordou os meninos a grito.
- Bora, desgraça, acorda! Tá na hora da escola!
- Ah não, mainha, ainda tá cedo! Joguei bola até umas onze ontem!
- Foi uma disgrama pra eu botar vocês de manhã. Bora, acorda!

Rivaldo chega no terminal às sete e meia. Dona Amara já está lá, com o copinho de café na mão, esperando seu Rivaldo sentada em frente ao ônibus.
- Booora, fia. Simbora que eu quero rodar só até as duas hoje!
- Sim, mas se atrasar a rota, a gente num pode fazer nada.
- Eita que Roberval num fez direito ontem não, né? O mau-humor tá bom que só!
- Mas se meta com a sua vida, sujeito!

Rivaldo dá a partida no Busscar da Borborema. São dez da manhã e o primeiro probleminha acontece. Engarrafamento na Caxangá.
- Putaquepariu! Já tô perdendo uns quarenta minutos nessa brincadeira.

Às doze e quarenta, Rivaldo termina a penúltima viagem.
- Porra. Me fodi. Só termino às três e meia. A mulher vai dar o caralho!
- Calma, Nosso Senhor escreve certo por linhas tortas.¹

Às catorze e trinta e cinco, Rivaldo chega na frente da UFPE, o Centro de Filosofia e Ciências Humanas.
- Ainda bem que tem pouca gente hoje. Geralmente a essa hora tá cheio de bóizinho indo embora da faculdade.

Quando Rivaldo olha pro lado, vê um* garot*de camisa verde esbarrar num* garot* de roupa folgada.
- Desculpa! - diz * menin*. El* tá com uma cara de quem bebeu.
- Nada, relaxa. - diz * menin*, com um sorriso simpático. Isso só quem percebeu foi D. Amara, a cobradora.

Rivaldo e Dona Amara não sabem. Mas no dia seguinte, os mesmos se encontraram.
E * menin* perguntou:
- Ah, você é * garot* do ônibus, né?

¹Nosso senhor é o caralho!

sábado, dezembro 02, 2006

Fantasia

- Ah, você é * garot* do ônibus, né?
- É, sou. E você é * garot* do feather na tela? Com trilha sonora de Alphaville ou Duran Duran, né?
- Sou. E entrei na sua vida pra tornar as coisas mais engraçadas, mais fantásticas e mágicas.
- E eu entrei na tua pra quê? Que papel tenho nisso, se não pra trazê-la abaixo?
- Pois é. A gente dá, e vem cada coisa de troco...
- Não, que é isso, pô? Eu não pretendia.
- Nenhum de nós...
- Não pensei nas consequências. Pensei sim. Pensei. Mas quis fantasiar mais um pou...
- Vamos não? Vamos voltar à realidade.
- É. Agora comecei a receber a punição.
- É?
- É.
- Qual?
- Saber que te machuquei.
- Não me machuquei. (surge "mentira" na testa del*)

El* fantasiou e el* aceitou. El*s se enamoraram. Nasceu um grito na garganta d*s d**s, que quis sair. E não saiu. Foi reprimido. No futuro, ou dirão "ainda bem" ou "que merda que fiz" por causa dessa repressão. Mas o conceito de futuro é relativo. Não, não é relativo. É aleatório. O nome disso é Fenomenalismo. É, mais adequado, pois...

Foi uma fantasia fenomenal. É quando o despertador toca.

sexta-feira, novembro 03, 2006

(sem título) ou Como assim?

-Mas...como assim? A gente nem se conhece!
-Pra que você tem que ir?
-Ora...Não te diz respeito!
-Não pode...
-De novo, a gente nem se conhece!
-...
-Nós...
-Xô falar: VOCÊ não me conhece, mas eu te conheço faz tempo. Te acho linda, mais um monte de coisa que não vou dizer agora pra não parecer elogio barato. Eu desenvolvi uma relação contigo, mesmo que de mão-única. Mas desenvolvi! Agora, se você for, vai estar me deixando!
-Mas eu nunca quis...
-E tu acha que eu quis? Isso não se quer.
-...
-Tem mais: se for agora, vai estar jogando fora os passeios que não demos em volta da lagoa, os banhos de chuva que não tomamos, os dvds com doritos e coca-cola que não vimos, os almoços perto do parque, comida chinesa e japonesa! Juntos!
-Você pensou nisso tudo?
-Agora gosto mais ainda, pois parece que você não sabe o que é amar. Eu ensino!

Ela ficou? Se sim, a outra ensinou.

quarta-feira, outubro 25, 2006

E o amanhecer nunca me encontrará onde o anoitecer me deixou.

"Não fez sentido ter deixado a cama naquele dia;os velhos e maus dias, vieram e
se foram, deixandoo espaço aberto para anos mais frutíferos"


Não, pô. Eu não vou sair daqui. Vou dormir nas ruas dessa cidade por mais uns
dez anos, e ver até quando as ruas vão me aguentar.
Hã? Como assim? Tristeza
e felicidade: não importa qual das duas, contanto que seja intenso.

E ele colocou os fones no ouvido, e pegou o metrô. "Tu dá uma bolinha, véi?", perguntou o vendedor de pipoca. "Rapaz, eu fumo, mas pouco...não curto muito ficar com sono, saca?" O garoto lhe entrega uma pipoca, e diz "na paz, bróder". Sai do trem na quinta estação.

Manhã quente, essa. Vou pra aula não, vou pra rodoviária, comer um big bob e fumar um cigarro. E terminei indo pra cidade. Eu gosto da cidade. Estudei dez anos por aqui. E matei muita aula conhecendo os becos sujos. Rá, me sinto o próprio Holden Caufield. Ou o Ronald Müller. Whatever.

Whatever...muito eu isso. Ih, bicho, a Rua do Hospício. Naaaah, hoje não. Hoje é dia de Beco da Fome. Só nostalgia, rarrá! Vou comprar cigarro, e chego já aí. É, me espera. Sentei, e pedi uma cerveja. Dois copos, né? É. Que massa que tu me chamou! Eu tava solapando pelos cantos do centro, lembrando... Ah, sim, sim. Fala. Como foi? Ahahaha!

(escutando)

Ah, pô, sim...Aí eu indo pra aula, liguei o diskman e pensei em faltar aula...Ah, falou, falou, depois a gente conversa. Relaxa, pô, amigo é pra isso.

(sozinho, no beco da fome)

É foda mesmo...Mas relaxa. Sim, pode trazer outra! É, Vera...vou ficar até tardão. Não, não tem muito o que fazer não...Não, relaxe, tá bom. Toma aqui, adiantado. Hmm? É, sou...Mas não tô lembrando... Ahhh, diz, menina! Tudo bom? Rerrêrrê... Senta aí, pô. Não, não. Ele já foi. Era um amigo meu que... Sério? Que massa. Sim, esse meu amigo... Ah, sei... Poxa, mas relaxa, pô. É, eu sei que não dá. Mas calma, ele vai te ligar. Ele...Como é o nome dele? Sim, sei. Certo, calma. Ele vai ligar, calma.

(escutando)

HAHAHAHA! Que bom que tu tá melhor, pô. Normal. Que nada, pô, podemos nos tornar grandes amigos sim! É! Tá bom, beijão! Prazer, viu? Falou. Vera! Traz outra! Não, pô, que nada... Eles não precisam de auto-ajuda, só de amigo. Qué isso! Hehehe. É, Skol. Que horas...? Caralho, já? Falou, falou. Tchau, Vera!

Puta merda, Pátio de São Pedro? Tá, eu vou. Me encontra lá no Sargento. E aí, meu irmão! Porra, de novo? Relaxa, vocês voltam. Voltam, doido. É Sério! Não, não. Bora. Skol, amigão. Isso. É. Tá bom, vai lá, ela tá só te esperando! Relaxa, eu fico aqui (meu deus, é só o que eu quero, curtir a nostalgia sozinho!) é, po, vai, vai! Aêê! Falou, depois tu me fala na internet.

Conectando ao velox...
Conexão cancelada pelo usuário.

Sem MSN hoje. Vou escrever pro blog, depois conecto, publico, e vou dormir. Pegar metrô amanhã de manhã vai ser FODA!

terça-feira, outubro 10, 2006

Esclarecendo...

Eu ali, querendo te falar "E quem disse que eu não me apaixonei?".
Mas achei que nao cabia.
Pois a conversa ia subir, subir, subir...
E eu ia ter que falar dos meus sentimentos.
Coisa que eu não faço há muito tempo;
nem comigo mesmo.


E a conversa ia subir, subir, subir...
E eu ia ter que falar o que realmente aconteceu.
Coisa que você ainda não tá preparada pra saber;
nem eu mesmo.


E a conversa ia subir, subir, subir...
Mas achei desenecessário, no momento.
Pois você ia ficar com raiva das revelações.
E ficaria chateada.
Coisa que eu não quero que você fique;
nem comigo mesmo.


E a conversa ia subir, subir, subir...
E você ia me compreender direitinho.
Coisa que eu não quero que aconteça;
"...pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."
e é impossível ficar melhor de como tá agora.

{c

quarta-feira, outubro 04, 2006

Olhos de quem segura o mundo nas costas.

GRANDE ENGANO, sem encanto, misterioso, mas aos prantos; não ouso perguntar o que te acomete, garoto. Não que você não vai gostar, mas o mundo perde a flor quando esta desabrocha. Não, deixa assim, deixa ficar assim, tua coxa me segura mais um pouco, me segura pelos olhos, enquanto o ronronar na tua voz me segura pelas orelhas. É, ronronar, tipo de gato. Mas só aparece quando tu fala, numa rouquidão sexy que deixa tudo com desfoque assim de eco.

Grande encanto, não me engana, eu noto que tás triste. Mas não, não vou perguntar, cara. Deixa tu assim, olhando pro copo e pensando, que tu fica lindo assim. É, lindo, ora, pensando no que quer que estejas pensando. Não me engana, não, melhor tu ficar calado. Ai, grande encanto, por que tu não me fala...? Não, não fala não. Deixa eu ficar olhando de longe pra descobrir. Não, nem descobrir eu quero, tu fica lindo quando eu não te entendo, e o mundo perde a flor quando esta desabrocha.

Grande encanto! Teus olhos, homem! Teus olhos tão vazios, tão esguios, tão másculos; mas vazios. Fica parecendo que tu tem o peso do mundo nas tuas costas, porra. Fica mais sedutor ainda, passa experiência e dor. Provavelmente é uma besteirinha, mas pra você tá sendo o fim do mundo! Meu deus, como isso excita! E conquista! Meu coração, encanto, meu coração. Teus olhos tão fitando o copo, cara, e eu tô aqui falando com minhas amigas - Ei Baixinho, traz mais uma que a dele esquentou - e te olhando, você nem notando que eu tô te olhando. Encanto, eu falo pra elas e olho pra ti.

Grande mistério, eu nunca vou querer te conhecer a fundo, quero ir te conhecendo aos poucos, e nunca chegar ao fim, pois o mundo perde a flor quando esta desabrocha.

- Que porra tu tem, heim?
- Hmm... Reprovei em Legislação e Ética, .
    • Texto escrito em 10/06/2005, e republicado hoje na Gazeta. Qualquer semelhança...é igual pra caralho.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Sílabas Alcoólicas


E daí que eram eleições?
Ninguém tava vendo a contagem de votos,
tava?


Domingo, primeiro de outubro de 2006. Eleições no Brasil. A contagem de votos passando no telão do marco zero, e um molho de gente de vermelho, azul e amarelo. Um saco.

Mas é interessante ver o Recife Antigo cheio, mesmo que tenha esse significado ridículo.
Recife não tem mais aquele furor da juventude. A juventude não é mais recifense, sei lá. Tem emo sentado no salão de festa do prédio dos amigos, tem cult bebendo do lado de casa, tem rotulador escrevendo em blog; tá um saco.

Aproveitemos então um domingo de eleições! Cachaça pra caralho, cerveja no isoporzinho no meio do marco zero, Dj Eras no comitê de um partido; temos muito o que fazer num domingo de eleições... Menos olhar a porcaria do telão.

Vai haver segundo turno, mais uma noite no marco zero. Leve as crianças! Não, as crianças não, tem muita droga lá; leve as irmãs! Pois sinceramente? Ninguém vai olhar o telão, de novo.

Mentira, pô, teve gente olhando, mas era gente lesa. Cachaça e cerveja valia mais. Votar em gente vendida já é um saco, ficar torcendo olhando pro telão é pior. Melhor que isso é beber sílaba e ficar conversando potoca, dizendo que vão ser quatro anos horríveis, et caetera.

Dá-lhe, Regina Duarte. Agora, até eu tenho medo do Lula.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Da imagem

Mas por que, essa fixação pela imagem? Qual o problema em imaginar? Interpretar, obviamente com os detalhes e descrições adequados?
É um comportamento com registros antiqüíssimos!

Imagem vem da união do latim "Imago", que significa "visualização gerada pelo ser humano", com o marciano "em" que significa "aquilo que é superficial pra caralho", denunciando assim a sua real essência: ganha quem agradar um maior número.

Quem é gordo, quer emagrecer; quem é magro, ficar forte.

-Putz, tu viu fulano?
-Vi não...percebi! Tá muito magro, pô! Não dá pra ver.
-É, era melhor gordinho.
-Mas eu pego mesmo assim!¹
-Safadinha!

-Putz, tu viu fulano?
-Claro! E tem como não ver? O bicho tá grande pra porra.
-É...ele tinha emagrecido.
-Pego do mesmo jeito!¹
-Safadinha!

Não dá pra dizer a exata data em que essa fixação na imagem surgiu, mas sabe-se que no Egito Antigo, já representava muito. Um corpo gordo indicava que o indivíduo era de família rica, e tinha bastante comida. Despertava os interesses das mulheres, como no caso do amor entre Ank-Su-Na-Mum e Joço Ares. Caralho, por que não é assim hoje em dia?

¹Esses comentários são raros entre as mulheres, mas a gazeta também trata de ficção!

quarta-feira, setembro 13, 2006

Em guarda.

Por Dimitri Miroma

"Pois pegue esse seu amor, guarde numa
caixinha, e soque no fundo de seu cu."

~
G.

NÃO É FÁCIL entender o que se passa pela cabeça de alguém apaixonado, disso todo mundo sabe.

Adriana e Priscila se conheceram em Veneza, em 1993. Adriana usava um robe azul, de um material que parecia seda, mas não era. Não que ela não tivesse dinheiro, tinha sim - estava em Veneza só pra curtir; mas ela não gostava de gastar com besteiras. O material do robe era confortável e agradabilíssimo. Ela estava no corredor do hotel.

Priscila voltava da sauna, em seu roupão. Também azul. Uma beleza.Priscila tinha errado de andar. "Santo destino" pensariam elas. De qualquer forma, elas se gostaram.
O problema maior era a incompatibilidade, obstáculo comum a casais. Uma tinha uma mania de se dedicar a prioridades que não condiziam com sua realidade emocional. Outra tinha mania de se realizar emocionalmente com prioridades que não condiziam com a primeira. Era chato pra caralho, e machucava uma e não outra.

Adriana começou a se encaralhar com a dedicação profunda de Priscila aos esportes. Entenda, não era como se ela não se interessasse por sua garota, mas esse caralho a deixava cansada. Ela praticava bastante. E quando chegava em casa, ainda se esforçava pra ser atenciosa com Adriana. Se esforçava pra caralho, mesmo. Mas vamos e venhamos: é humano querer se divertir, e relaxar com coisas que a gente gosta, depois de um dia de treinamento intenso. E é mais humano ainda querer fazer isso com a pessoa que se gosta, sob a premissa "o que importa é estarmos juntas; fazendo o que eu gosto, mas eu tenho o direito pois me canso mais".
Ela compreendia, mas foi enchendo o saco com caralho e tudo. E Pri percebia isso, mas não sabia o que era.

E foi um seique, seique, sei que acabou. E agora Pri tá triste. E Adriana? Gostando de homem.

sábado, agosto 05, 2006

Extra! Gazeta da Melancolia volta ao ar!

A Gazeta da Melancolia está de volta Por Dimitri Miroma

Sete anos se passaram desde que o primeiro tópico da Gazeta ia ao ar. A rede nunca mais seria a mesma, depois dos deprimentes depoimentos de um adolescente ocuparem o espaço dos games, fotologs e blogs. Em quatro anos de manutenção do diário, paixões surgiram e morreram, dificuldades financeiras foram relatadas, problemas com drogas e relacionamento com a família, descritos. A vida de um tímido garoto, que assinava com o pseudônimo de Pietro Dumas, era exposta para o mundo, e com isso, afirmava, satisfazia sua necessidade de interação. Era o garoto mais sociável do mundo, pois vários o conheciam. A Gazeta chegou a receber, então, mais de 100 visitas por dia. Nenhum recorde, principalmente naquele ano de 2002, época em que os blogs e fotologs estouravam na World Wide Web. Mas eram seus dias de glória. Seus quinze minutos de fama. Quinze minutos, ou mais, dependendo do tamanho do post.
Pietro se regojizava com o reconhecimento, com o interesse da sociedade. Mas tudo mudou. Pietro começou a crescer. Meados de 2003, a Gazeta já não recebia de seu editor a atenção necessária para se manter intrigante. A Gazeta deixava de ser um refúgio para as pessoas que, sentindo-se sós, inferiores, tristes, procuravam as vidas de outrem, vidas que eram piores que as suas. E, sim, era isso que mais se encontrava lá. Você, leitor, provavelmente encontraria uma vida pior que a sua.
Pietro passou então a postar semanalmente à Gazeta. A freqüência de visitantes diminuía dia após dia. Foi quando ele, em uma espécie de último suspiro, mudou a descrição do periódico:
Ao invés de se manter "A Gazeta da Melancolia: A tribuna do povo subterrâneo", tornou-se "A Gazeta da Melancolia - Com o propósito de avaliar as alegrias da vida sob uma perspectiva triste".
Foi um sucesso. O diário recuperou boa parte de seus antigos freqüentadores, e mais alguns novos também. Mas durou pouco. No final do ano, A Gazeta fechava suas portas(?), por falta de dedicação.
Agora, em 2006, com uma nova administração, chega o momento de reabrir suas portas. Desta vez, não mais um garoto, e sim, com um homem escrevendo. Um homem com as mesmas características daquele adolescente: Tímido, atormentado, carente, e com a urgente necessidade de estabelecer uma relação social, mesmo que ativa X passiva, redator X leitor. Dimitri Miroma veio pra ficar, e organizar novamente o periódico de maior sucesso do povo subterrâneo. Ah, e a descrição?

A Gazeta
da Melancolia
Observando os males que afligem a
humanidade sob a perspectiva de uma pessoa feliz.
E que desta vez, dure mais.
Observação: Dimitri Miroma É sim Pietro Dumas.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Gazeta

gazeta

do It. gazzetta, moeda de cobre com que se comprava o jornal
s. f.,

publicação periódica, noticiosa, política, literária, artística ou
doutrinária;
gazeio;

Da Culpa

- FALA-NOS do Chiclete Adams.
- Ó, humanidade, querida humanidade, vós sabeis que eu não falarei de assuntos tão inferiores e mundanos.
- Certo. Fala-nos da culpa.
- Beleza! A culpa...hmmm...
- Se quiser...
- Culpa é a responsabilidade dada à pessoa por um ato que provocou prejuízo material, moral ou espiritual a si mesma ou a outrem. Não se atribui a culpa a quem não provocou prejuízo material, moral ou espiritual a si mesmo ou a...
- ...
- Culpa é o que vocês sentem quando me irritam!
- ...
E Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos." E ele falou:
- Vossos filhos não são vossos filhos.
E o resto vocês conhecem.

Do Batismo de Sabedoria

- FALE-NOS da cura.

- Hmmmf...Caham.

- Ok. Fale-nos do...

- Do Batismo de Sabedoria? Ora, não tem algum assunto, dúvida, interesse mais difícil ou complexo para que eu discorra?

- Tenho sim, ora, então fa...

- O BATISMO de Sabedoria! A humanidade é a única espécie que devolui enquanto evolui. No tocante a religião (não, não entrar-nesses detalhes-lo-ei!), e espiritualidade, sois os que melhor se encarregam de divulgar, publicizar e impor vossas medidas, vossas vontades. Se crê em algo, ai de quem não crê-lo.

O Batismo de Sabedoria foi quase destruído, mais ou menos pela mesma razão, só que envolvia também o bezerro de ouro.

Os tesouros e as desgraças da vida, as maldições da humanidade e a soberba/avareza, sempre caminharam lado a lado¹. Na espiritualidade, os fariseus foram apontados por Jesus como os perdidos, sem salvação. Clientes do demo. Em outras religiões, outros setores também eram afastados do caminho. Na filosofia e na sociologia, a soberba sempre representou "o inimigo". O opressor. Mas nunca houve tamanha conexão, como houve no caso do Batismo de Sabedoria.

O Bezerro de Ouro. A espiritualidade. Pecado. O diabo "cristão". Personagens principais, em volta do protagonista Baphomet. Bafomé, pra nordestinizar! Eleito divindade pelos supostos Cavaleiros Templários (a.k.a. bandifidaputa), que eram uma espécie de protótipo de Banqueiros, que especulavam não com o dinheiro público, e sim com segredos e documentos da nobreza e do clero da época, o Bafomé era representado pelo velho corpo de homem com cabeça de bode. Foi então que uns de vós, ó, humanidade, uns outros de vós rebelaram-se contra este poder. Cansados de serem dominados pelos Cavaleiros Templários, eles resolveram mudar o jogo. Convocaram então uma caça às bruxas. Aos templários. Tanto faz.

Phillipe Le Beau e o Papa Clement V ordenaram a prisão, tortura e queima na fogueira de todos os cavaleiros, dando origem também à famosa festa de Saint Johann, por causa da roupa rasgada dos Pobres Cavaleiros Templários, e um de seus líderes, Johann Antoine Peters, que "pulou a fogueira" e virou milho assado.

Bafomé foi então endemoneizado, e se tornou (mais) uma das figuras que representavam o cão. Ou Cão. Cão, com maiúscula. Com minúscula, vira cachorro. Ah! O cão também se tornou (mais) uma das figuras que representavam o peste. Peste? Ah! Ciclose. Dinheiro. Corrupção. Maldade. Cachorros, pestes e bodes. Tudo isso...

- Por que CARALHOS tu começou falando dum tal de batismo de sabedoria -

- Batismo de Sabedoria. Com maiúsculas, e em itálico -

- Tanto faz. Por que tu começou falando dele, e terminou falando no diabo, ó Mestre?

- Baphomet remete às palavras gregas Baph e Metis, que juntas se tornam "Batismo de sab...

- Pfff...

- Ora.

- Foda-se. Fale-nos da cura.

- Hmmmf...

¹Nota do Autor - Há sete substantivos, mas são apenas dois companheiros: tesouro e maldição; o número sete não aparece gratuitamente, é pra aludir aos sete pecados capitais.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Do Profeta

- FALE-NOS da saudade.

- A SAUDADE, apesar do folclore, não é nome de freira.
A saudade é uma criação - ou melhor, uma intervenção humana. Desenvolvida para designar a sensação que nos acomete ao desejarmos a presença de outrem - não, quando se fala de muito tempo sem contato, chama-se nostalgia.

A saudade não nos traz benefícios, salvo quando a matamos (Isso dá pegadinha do tipo "o que é, o que é?).Pouco importa o tempo que se passou ausente, a distância que implicava nesse tempo. São a metade maligna da saudade. A parte realmente interessante é quando se destrói essa barreira, quando desenvolve-se a aproximação, quando o tempo passa. É. A saudade morre quando o tempo passa e a distância torna-se infinitamente constante de forma negativa: quanto mais perto, menos saudade. A saudade é um conceito histórico-geográfico. Espaço-temporal. A
saudade é instrumento de medida Einsteniano, e foi totalmente decomposta e explicada com a teoria da relatividade: Não se pode viajar pra trás no tempo.

Ou até pode, mas não se muda.


- Entendi PORRA nenhuma desta última parte. Mas fale-nos da indecisão.
- Hnnm?

quarta-feira, agosto 02, 2006

Sorrindo com a boca do oceano





"...E eu aceno pra você com os braços da montanha. Dê-me o mesmo, e então
estarei mais perto. Não deixarei mais você gritar. Está em minha
cabeça.
Vou te pegar do chão. Vou deixar você empatar o placar. Está em
minha cabeça.
Darei tudo a você, e então...estarei mais perto."

A GAZETA DA MELANCOLIA volta. Não, não é mais um diário de pessoa triste. Não, é um periódico que trata principalmente dos males que afligem a sociedade, sob a ótica de uma pessoa feliz. Para entender melhor, as frases mais indicadas são:

Ignorance is Bliss (A Ignorância é uma Bênção)

Nada diz mais sobre uma pessoa do que o que a faz sorrir. (Inversamente proporcional, claro).